O mais antigo cânon das proporções humanas foi encontrado numa câmara mortuária nas pirâmides de Mênfis, a capital dos grandes faraós, datado de 3000 anos a.C.
Desde então, e até hoje, artistas e cientistas têm-se dedicado em desvendar os mistérios das relações proporcionais do corpo humano. São conhecidos os cânones do império faraónico, da era ptolemaica, dos gregos e romanos, o cânon de Policleto, que determinava que o total do corpo era sete vezes o tamanho da cabeça, e a mundialmente conhecida obra de Albrecht Dürer.
Entre todas as formas de estabelecer proporções, uma das mais conhecidas é a proporção áurea, divina ou “mágica”, que representa a fórmula matemática que define a harmonia nas proporções de qualquer figura, escultura ou monumento.
A proporção áurea simboliza, no fundo, a “propriedade divina” da relação de Fibonacci ou a “proporção divina” de Pitágoras, através da seguinte fórmula, em que o S representa o número anterior e L o número ulterior na sequência:
Esta proporção é de 1,0 para 1,618 que, em números inteiros pode ser expressa como 3 para 5, 5 para 8, 13 para 21 e assim progressivamente exactamente como a sequência de Fibonacci:
Em Medicina Dentária Estética são requeridos vários elementos para a unidade e estética ideais, sendo um deles a proporção dentária. Segundo alguns autores, a perspectiva de harmonia do sorriso pode ser percebida pela relação proporcional áurea existente entre a largura do sorriso, o segmento dentário anterior e o corredor bucal. Multiplicando-se metade da largura do sorriso por 0,618 obtém-se o valor do segmento dentário anterior de incisivo central a canino e, este valor, multiplicado por 0,618, por sua vez, estabelece a largura do corredor bucal.
A aplicação da proporção áurea na estética dentária foi descrita inicialmente por Lombardi, em 1973, e, depois, por Levin, em 1978, que usou a proporção áurea para relatar as sucessivas larguras dos dentes anteriores com o objectivo de auxiliar a selecção e montagem de dentes. Assim, para os princípios da proporção áurea serem aplicados, foram criadas, por Levin, grelhas para a avaliação da medida da amplitude do sorriso e da porção visível dos dentes.
A análise da proporção áurea pode ser aplicada de uma forma unilateral ou bilateral. Este é um caso, relatado por Mondelli no seu livro, no qual foi aplicada a proporção áurea:
É notório que as relações proporcionais/áureas sempre estiveram presentes durante toda a história do ser humano. No que diz respeito ao sorriso, a maior parte dos estudos que encontramos demonstram que a maioria das vezes a proporção áurea não é encontrada na composição dentária da população em geral.
Como tal, não deve ser aplicada sistematicamente em todos os casos, devendo servir principalmente como guia de diagnóstico e ser aplicado a cada caso em particular, tendo em conta a experiência, a sensibilidade clínica do Médico Dentista e os factores individuais da pessoa que estamos a tratar.
A natureza fundamental da beleza humana é algo demasiado complexo para se medir ou avaliar apenas de régua, esquadro e compasso.
A proporção áurea é, pois, um mito, visto que até os desalinhamentos, as rotações ligeiras e as demais discrepâncias subtis podem providenciar o conceito de beleza mais difícil de reproduzir: a naturalidade, a personalidade e a harmonia dentro da assimetria de cada um.