Mais uma vez fomos cumpridores nos horários e largámos Budapeste à hora decidida por todos. Mais uma longa viagem de comboio nos levaria novamente ao local por onde já tínhamos passado durante um sonho constantemente interrompido numa carruagem. Voltávamos a Zagreb, na Croácia.
A Croácia é um país com uma história recente: república democrática apenas desde 1990, desde a adopção da constituição, depois dos conhecidos anos de guerra que afligiram a Ex – Jugoslávia. É, pois, um país cuja população com marcas profundas desses anos, pois qualquer família tem um Pai, um primo, um tio, um irmão, ora ferido da guerra, ora perdido, ora marcado.
Embora a sua triste história, estes dias na Croácia, porém, julgo que nos surpreenderam pelo seu desenvolvimento turístico e simpatia do povo.
Chegámos a Zagreb na manhã quente do dia 5 de Agosto. Zagreb estava deserta, tal como Lisboa no oitavo mês do ano. Quente e sem pessoas, todas deslocadas para outros lados mais apetecíveis para aproveitarem as suas férias.
E foi assim mesmo que fizemos. De mala às costas, novamente nos deslocámos até ao posto central de venda de bilhetes. Aquele não ia ser decididamente o nosso ponto de paragem.
Zagreb era no Norte da Croácia e nós queríamos era ir a descoberta das praias que tantos livros e pessoas já haviam referenciado. O próximo destino era Zadar, o ponto mais a Oeste da região Dalmácia.
Lembro-me que comecei a escrever este texto enquanto estávamos a apanhar sol em plena Costa Adriática da Croácia, a poucas dias de começar a fase de retorno, que nos levaria de volta a Portugal. Dentro de menos de duas semanas sabia que pensaria: Que saudades desta água tão límpida e quente, que não se compara com a nossa tão fria.
Mas, por outro lado, também tinha saudades da nossa areia, que por aqui não existe. Percebi ali, naquele instante, que é impossível conseguir ter o melhor de dois mundos.
Ainda andámos por Roma, Sul de França, Barcelona. Mas a oportunidade e a inspiração para escrever não chegaram. E escrever a posteriori não dará o mesmo valor ao relato, mas que estou certo que perdurará para sempre nas nossas memórias. Toda a cidade de Roma a pé num dia, o comboio de refugiados até ao Sul de França e a noite na pensão de duas estrelas junto à estação de comboios de Montepellier e as Ramblas.
Estamos agora no último comboio, na última das dez viagens que o nosso bilhete permite.
Faltam poucas horas para chegar a Lisboa e, por fim, deixarmos de nos ver 24 horas sobre 24. Nestas viagens as amizades constroem-se. Porém, já têm de existir de antemão. A estrada, com curvas, contra-curvas, muitas rectas, alguns buracos no alcatrão, já têm de existir. A Europa, os sítios que visitamos, e o Mundo que juntos desejamos, apenas ajuda a aumentá-la, tornando-a maior e com mais paisagens bonitas.
Durante 20 dias, com mais do que cinco alterações no roteiro inicial, estivemos em Espanha, França, Itália, Eslovénia, Hungria e Croácia. Visitámos ao todo 7 países, incluído o Vaticano.
À ida, o mais difícil é partir. À vinda, o mais difícil é chegar. Contudo, julgo que podemos concluir que viajar nos dá tranquilidade, mas também cedo chegam as saudades de Portugal. E lá fora percebemos que em muitas coisas o nosso país não é assim tão mau. Como Eça comunicara em tempo a Ramalho: “Estar longe é um grande telescópio para as virtudes da terra onde se vestiu a primeira camisa.” O melhor de viajar é sentir falta. Viajar nunca é demais. Ir além fronteiras, abrindo a mente. E voltar revitalizado.
Com poucas páginas restantes no meu caderno para escrever, não seria capaz de terminar este roteiro, repleto de textos que sempre quiseram ser curtos, com pouco cheiro, mas alguma água na boca para que quem leia procure a sua própria viagem e saiba escolher os seus companheiros, sem escrever que vos adoro, meus amigos, meus camaradas de descoberta de lugares e de nós próprios, meus irmãos.