sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Na minha opinião, Leonardo da Vinci foi desdentado total

Imaginemos ver na rua uma pessoa desdentada: o que nos perturba não é a forma dos lábios, ou os poucos dentes que restaram, mas o facto de os dentes que ficaram não serem acompanhados pelos outros que lá deveriam estar. Não conhecemos aquela pessoa, aquela fealdade que nos envolve emocionalmente. Contudo, perante a incoerência ou incompletude daquele conjunto, sentimo-nos autorizados a dizer apaixonadamente que aquele rosto é feio. (Umberto Eco in História do Feio)

As consequências de alguém que perdeu os dentes são, para além da decorrente reabsorção óssea e das alterações da coordenação muscular e naturais influências do padrão mastigatório e da fonação, as consideráveis modificações na estética facial do indivíduo. E, com tudo isto, os factores psicológicos negativos que são criados.

De seguida, apresenta-se uma imagem de um desdentado total e a descrição das principais estruturas afectadas na sua estética facial:



Existe um desaparecimento do filtro labial.


Existe uma inversão das comissuras labiais.


Existe um acentuamento dos sulcos naso-genianos.


Um acentuar das rugas labiais, ficando também os lábios mais finos.


Verificando-se, ainda, uma diminuição da altura do terço inferior da face e um prognatismo relativo (avanço da mandíbula em relação ao maxilar superior).


Leonardo da Vinci é considerado por muitos como o maior génio da história.
Foi pintor, arquitecto, engenheiro, cientista e escultor do Renascimento e são impressionantes os seus estudos em ciências e as criações de engenharia que realizou, que se encontram registadas em cadernos que incluem perto de 13.000 páginas de notas e desenhos que fundem arte e ciência.

Os seus trabalhos artístiscos são altamente reconhecidos, onde se incluem obras como A última ceia ou, para citar talvez o mais conhecido, A Mona Lisa.
Entre diversas teorias, existem algumas que apontam essa obra como um auto-retrato de Leonardo, mas com feições femininas, explicando assim o sorriso ambíguo.

As lendas em volta de Leonardo da Vinci são múltiplas e elas inspiram até hoje imaginações em todo o seu limite e foi por isso que, deparando-me com o seu último auto-retrato, datado de aproximadamente 1515 (Leonardo teria 63 anos), decidi sugerir que, nesta fase da sua vida, é provável que se pudesse encontrar edêntulo.

Ora, agora que conhecemos as características faciais de um desdentado total, analisemos o retrato:


Numa análise científica, meramente baseada na evidência, note-se a marcação dos sulcos naso-genianos, a ausência do filtro labial, as comissuras labiais invertidas, os lábios finos, o terço inferior da face diminuído e um prognastimos relativo, embora a barba ajude a disfarçar.


Grande inventor da sua época, Leonardo da Vinci era um homem à frente do seu tempo. E, como tal, já tinha deixado preparada a resposta para esta observação, chegasse ela quando chegasse:

" Era uma vez um rapaz que tinha o vício de falar mais do que devia.

- Que língua! – Suspiravam, um dia, os dentes. – Nunca está quieta! Nunca se cala!

- Que estão vocês a murmurar? – Replicou a língua com arrogância. –Vós, os dentes, não sois mais do que servos unicamente encarregados de mastigar os alimentos que eu escolho. Entre nós não há nada em comum e não vos permito que se metam nos meus assuntos.

Deste modo, o rapaz continuava a dizer coisas que não vinham a propósito, enquanto a língua, feliz, conhecia todos os dias novas palavras.

Um dia, o rapaz depois de ter feito uma tolice autorizou que a língua dissesse uma grande mentira. Mas os dentes, obedecendo ao coração, morderam-na.

A língua ficou corada de sangue e o rapaz, arrependido, corou de vergonha.

Desde aquele dia a língua tornou-se cautelosa e prudente e antes de falar pensava duas vezes.

Contos de Leonardo da Vinci - A língua mordida pelos dentes

1 comentário:

José Pedro Gomes disse...

Muito interessante. É realmente uma suposiçao deliciosa.

Obrigado Arrobas