quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Conversas entre... PS e PSD

Vivemos num momento em que é mais importante o desenvolvimento e o bem do País ou as intrigas ideológicas?

Incrível, como quando lemos Eça de Queiroz, e sabendo que tudo foi escrito há dois séculos atrás, tudo se mantém tão contemporâneo e, ainda hoje, a política, tal como a sociedade, precisa de uma mudança. Será que Eça é que era demasiado evoluído ou nós demasiado atrasados? Talvez os dois.

“ Caminhamos para uma ruína! – exclama o Presidente do Conselho. – O défice cresce! O País está pobre! A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc...»
Mas então o partido regenerador, que está na oposição, brame de desespero, reúne o seu centro. As faces luzem de suor, os cabelos pintados destingem-se de agonia, e cada um alarga o colarinho na atitude de um homem que vê desmoronar-se a Pátria!

– Como assim! – Exclamam todos – mais impostos!?
E então contra o imposto escrevem-se artigos, elaboram-se discursos, tramam-se votações! Por toda a Lisboa rodam carruagens de aluguel, levando, a 300 réis por corrida, inimigos do imposto! Prepara-se o cheque ao ministério histórico... Zás! cai o ministério histórico!

E ao outro dia, o partido regenerador, no poder, triunfante, ocupa as cadeiras de S.Bento. Esta mudança alterou tudo: os fundos desceram mais, as transacções diminuíram mais, a opinião descreu mais, a moralidade pública abateu mais – mas finalmente caiu aquele ministério desorganizador que concebera o imposto, e está tudo confiado, esperando.
Abre a sessão parlamentar. O novo ministério regenerador vai falar.

Os senhores taquígrafos aparam as suas penas velozes. O telégrafo está vibrante de impaciência, para comunicar aos governadores civis e aos coronéis a regeneração da
Pátria. Os senhores correios de secretaria têm os seus corcéis selados!
Porque, enfim, o ministério regenerador vai dizer o seu programa, e todo o mundo se assoa com alegria e esperança!

– Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho.
O novo presidente: «Um ministério nefasto (apoiado, apoiado! – exclama a maioria histórica da véspera) caiu perante a reprovação do País inteiro. Porque, Senhor
Presidente, o País está desorganizado, é necessário restaurar o crédito. E a única maneira de nos salvarmos...»

Murmúrios. Vozes: Ouçam! Ouçam!

«...É por isso que eu peço que entre já em discussão... (atenção ávida que faz palpitar debaixo dos fraques o coração da maioria...) que entre em discussão – o imposto que temos a honra, etc. (apoiado! apoiado!

E nessa noite reúne-se o centro histórico, ontem no ministério, hoje na oposição. Todos estão lúgubres.

– «Meus senhores – diz o presidente, com voz cava. – O País está perdido! O ministério regenerador ainda ontem subiu ao poder, e doze horas depois já entra pelo caminho da anarquia e da opressão propondo um imposto! Empreguemos todas as nossas forças em poupar o País a esta última desgraça! – Guerra ao imposto!...»

Não, não! Com divergências tão profundas é impossível a conciliação dos partidos!”

Eça de Queiroz
In Uma Campanha Alegre – Volume I


Todos os dias ouvimos dizer que o país está perdido. “De Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País está desorganizado”. Ninguém se ilude, perdendo-se, através de tudo isto, o sentimento de pátria.

Estará mesmo de Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País tão desorganizado? Talvez pudesse estar melhor, mas talvez também pudesse estar pior.

A verdade, e o que efectivamente importa, é a concretização de políticas necessárias e indispensáveis.
"Também só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. E de mostrarmos ao mundo os nossos sucessos.", como escreveu um dia Nicolau Santos, director-adjunto do Jornal Expresso no seu Elogio a Portugal. 


É que Eça de Queiroz, quando o acusaram também de “estrangeirado” e “afrancesado” e de contribuir para “desaportuguesar” Portugal, pelo exagero de francesismos nas suas obra, com razão, disse: “Apenas nasci (…), eu comecei a respirar a França. Em torno de mim só havia a França. De cavaleiros portugueses, que dessem cutiladas nos mouros, nunca me contaram história alguma à lareira.”

A política precisa de se autonomizar e em Portugal o cidadão não pode desaparecer. É necessário que a inteligência e a consciência estejam em vigor, trabalhando, pois se Portugal não tem fé em si próprio, orgulho nos seus princípios e não se relata, não pode propriamente ter costumes.

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