sexta-feira, 22 de abril de 2011

Obrigado, José Mourinho

Carta aberta a José Mário dos Santos Mourinho Félix :

De Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País está desorganizado. Escreveu Eça de Queiroz, nas suas Farpas, não faz assim tanto tempo.
É precisamente na dificuldade e na austeridade que temos de ser criativos e, enquanto uns se afirmam independentes desta pretensa desonestidade dos homens públicos e das instituições diariamente escarnecidas, quando afinal são de todos os partidos em função da circunstância vitoriosa, tu mostras que é nos momentos de dúvida que a consciência do desafio permanente e de confrontarmos os nossos limites é que nos leva ao sucesso.
De ano para ano, de mês para mês, a ruína económica cresce e o desprezo pelas ideias aumenta progressivamente. Pergunta-se o povo se vivemos num momento em que é mais importante o desenvolvimento e o bem do País ou as intrigas ideológicas. Ao invés, tu, em vez de sono, fazes serviços ao bom senso e à competência. Sem medo das críticas dos outros, apontas a dedo, dia por dia, a realidade que observas do mundo que todos vemos, mas que, sem excepção, fingimos não acreditar.
Neste Portugal, em que ninguém quer um trabalho, mas sim um emprego, e que se dá tolerância de ponto ao meio dia da véspera de um fim-de-semana prolongado de quatro dias, os teus funcionários/jogadores trabalham a teu pedido, sempre ao mais alto nível, o tempo que lhes exigires. Eles fazem todos os sacrifícios porque acreditam em ti, que os lideras, e aplicam-se na perspectiva das concretizações vindouras, onde acabam por se ver recompensados.
Neste país em que não se consegue ver televisão, tanta é a desgraça e a insolvência, onde todos estão de pedra e cal na corrupção, ninguém é preso e pede-se conhaque, tu mostras que é possível beber champagne, em média, 3 vezes por ano, e de forma merecida.
A verdade é que todos os dias somos notícia pelo mundo fora, pela negativa, em virtude do nosso comércio que definha, da indústria que enfraquece e do salário que diminui. Em simultâneo, pelo contrário, de ti, que não queres ser cúmplice nesta indiferença universal, todos os dias temos ouvido cantar “melhor Portugal”. Contigo, levamos bandeira e clarim para todo o lado. Nesta jornada da crise económica e política (desde que nasci há 27 anos atrás que julgo que todos os dias ouvi a palavra “crise”), felizmente, não vamos sós afinal.
Exemplo disso mesmo é a recente conferência de imprensa em que falavas da conflitualidade da Taça do “vosso” Rei, como afirmavam os líricos de Barcelona, tão valentemente por ti vencidos. Mesmo sabendo que não existe nenhuma solidariedade entre os nossos concidadãos, orgulhosamente, disseste que eras de um país pequeno, a atravessar graves problemas, mas muito mais unido.
Neste nosso Portugal, em que a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro, também os pseudo-intelectuais gostam prontamente de criticar o ópio que é o futebol. Logo por isso, encheram-se de azedume e cólera os comentários replicados nas páginas da internet que apontavam como indecente a interrupção de uma entrevista de Pedro Santana Lopes para acompanhar a tua chegada a Portugal 3 anos depois da aventura inglesa.
Achas que foi desrespeitoso? No meu entender desrespeitoso é não reconhecermos que muito mais fizeste tu pela imagem do nosso país do que todos esses senhores de viver espiritual e intelectual parado. Faça-se a experiência de te pôr ao lado de um qualquer governante deste país e deixar um conjunto de crianças correr na vossa direcção. Aposto que até o filho desse político te pediria o autógrafo primeiro (e apenas?) a ti.
De quanto em quanto tempo, em Portugal, aparecem indivíduos de extrema qualidade. Várias são as figuras. Desde o Infante D. Henrique ao Engenheiro Edgar Cardoso.
Noutro país qualquer que se queira moderno e civilizado os feitos dos conterrâneos são elogiados, a escola criada é mantida e os discípulos são deixados. “As gerações vêm e vão, mas a Terra mantém-se eternamente firme. O Sol nasce e põe-se e tudo recomeça…” que será perpetuamente na Alemanha e no Japão que os peritos mundiais em química orgânica e tecnologia se encontrarão, respectivamente. Mas desde quando Portugal é uma escola mundial de navegação ou de construção de pontes?
Até nisso já soubeste dar uma lição a Portugal que ainda mingúem retirou. André Villas-Boas, embora agitador e muitas vezes mal criado, com quem finges te dar mal para lhe retirar pressão, é a tua escola. E o primeiro discípulo que deixaste. Pela tua mestria e visão das coisas antes do tempo, por muitos anos, irão portugueses dar cartas no futebol por esse mundo fora. E o futebol é um fenómeno social e de aproximação de povos e culturas muito maior do que muitos julgam ou valorizam.

Sou benfiquista, José. Confesso-te que também fui um dos que, perante a história mal contada pelos jornais, se satisfez por teres saído de treinador do meu clube. Porém, aproximadamente uma década depois, na passada quarta-feira, não hesitei em ver primeiro e muito mais atentamente o Real Madrid - Barcelona do que o Benfica - Porto.
Gostava de te conseguir reproduzir em palavras a festa que fiz junto dos meus amigos com o golo do Cristiano Ronaldo já no prolongamento, mesmo já depois de conhecer o resultado humilhante do meu clube, que supostamente me havia deixado triste e embaraçado.
A globalização, julgo ingenuamente, é isto mesmo. Torcer por quem merece. Esteja em qualquer lugar do Mundo, hoje em dia, a televisão permite torcer por quem faz da luta pela vitória, pelo resultado positivo e por ser o melhor um bem-estar e uma indústria. E esses é que devem ser os exemplos que seguimos. Em tudo.
No passado recente, o meu clube tem-me desiludido. Os pergaminhos de clube com deferência institucional, democrático, natural, espontâneo, humilde e vitorioso, que o meu Pai me ensinou, e em que me revia, estão substituídos por uma cultura com a qual não me identifico. Política de carroçaria e não saber ganhar nem perder que envergonha até as pessoas de bem. Desde a escuridão a que a imagem do Benfica foi submetida ao mundo inteiro, como à auto-ridicularização das palavras a que determinados dirigentes se submetem, cada vez me têm dado vontade de me tornar sócio de um outro clube: sócio do F. C. José Mourinho.
Um clube de sucesso e que o atingiu por ser trabalhador, genuíno, nacional, carismaticamente líder e que defende, de forma intransigente, os seus.
No fundo, não mais do que à imagem do que verdadeiramente são os portugueses. Só precisam de um ligeiro incentivo, que se tem tardado em fazer lograr.

Recebe um abraço de quem gostaria de um dia vir a ter apenas a oportunidade de cumprimentar-te pessoalmente e poder fotografar esse momento para que, um dia, se vier a refazer, em sonho, todo o percurso de vida, me lembrar de que havia, pelo menos, um português que valia a pena.
Obrigado, José Mourinho.
Com as mais cordiais saudações vitoriosas,
Fernando Arrobas da Silva

terça-feira, 19 de abril de 2011

Conversas entre... Guerra Junqueiro e Eça de Queiroz

" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, sem um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas (...) "

Guerra Junqueiro

" Este país, meu caro amigo, tem-se governado até aqui com expedientes. Quando vier a revolução contra os expedientes, o país há-de procurar quem tenha os princípios. Mas quem tem aí princípios? Quem tem aí quatro princípios? Ninguém; têm dívidas, vícios secretos, dentes postiços; mas princípios, nem meio !

Eça de Queiroz

domingo, 10 de abril de 2011

Carta aberta ao Presidente do FMI

Exmo. Senhor Director Geral
DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL
Senhor Doutor Dominique Strauss-Kahn
        
Assunto: Ajuda externa a Portugal – Proposta de Investimento Estratégico

Fernando Arrobas da Silva, Médico Dentista, com a cédula profissional número 07579, licenciado pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, vem, muito respeitosamente, expor e requerer a V.Exa. o seguinte:
Portugal, oficialmente República Portuguesa, como é naturalmente do seu conhecimento, é um país localizado na região sudoeste do continente europeu.
Como escreveu Luís Vaz de Camões a nossa “ocidental praia lusitana” possui uma área total de 92 090 Km2 para um total de, aproximadamente, 10 milhões de habitantes.
Apesar da crise económica assoladora em que nos encontramos presentemente, julgo que os tempos de crise devem sempre ser enfrentados, com rigor, mas também como um espaço para novas oportunidades. Portugal, ao longo da sua história de 872 anos de independência, sempre deu inúmeras provas de superação nos momentos mais complicados.
Portugal é um país de pessoas humildes e trabalhadoras. É um país de grandes mestres de literatura e a língua portuguesa está entre as mais faladas do Mundo. É um país incomparável no seu esplendor e qualidade das suas regiões turísticas. É o país de Eusébio, do Mar (...). É o país do Fado.
É também, contudo, e daí a razão desta missiva que lhe escrevo, um país desdentado.
Segundo alguns dados estatísticos apresentados pela credível Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco), do ano de 2005, um em cada cinco portugueses já perdeu, pelo menos, dez dentes. Enquanto os adolescentes se queixam sobretudo da falta de alinhamento dentário, o principal motivo apontado pelos adultos é a falta de dentes.
Permita-me, Senhor Director Geral, que junte nesta carta uma pequena explicação decorrente da perda de dentes.

Estas imagens ilustram que, com o tempo, a não reabilitação dos espaços correspondentes ao local dos dentes perdidos, e consequente migração dos dentes remanescentes para esses locais, traduz-se num padrão de posicionamento dos dentes alterado, afectando as funções naturais de fonação e mastigação.
Além disso, criam-se determinados espaços extremamente difíceis de higienizar, o que pode originar cáries e doenças gengivais/periodontais nos dentes adjacentes, levando à perda consequente de mais dentes, no sentido da desdentação total.
As principais funções da cavidade oral são a mastigação, a fonação e a estética.
A perda de dentes origina consequências na saúde dos indivíduos a vários níveis. A alimentação ser composta fundamentalmente de comida mais mole e açucarada, em virtude da falta de eficiência mastigatória, pode ter como consequência, por deficiências nutricionais, outro tipo de doenças metabólicas, como a diabetes ou problemas cardiovasculares, que acrescem em grande número os custos do nosso Sistema Nacional de Saúde.
Pergunto-lhe ainda, Senhor Director Geral, se não é fundamental a confiança que uma pessoa tem em relação a si própria nas suas relações laborais e se a saúde em que se encontra a cavidade oral das pessoas não é um factor determinante.
Dou-lhe a garantia e a minha palavra de honra de que nestas imagens impressionantes que lhe apresento se encontra uma pessoa licenciada, em idade activa, alto quadro de uma das maiores multinacionais e relevantes empresas portuguesas.


Qual é a estética? Qual é a função? Qual é a confiança e integração social de alguém nestas condições? Quais são as inseguranças de uma vida presentes neste “sorriso”? Não sei a resposta a nenhuma destas perguntas.
Mas sei o trabalho em que consiste reabilitar este caso com acesso a técnicas de Implantologia e prótese fixa, ainda numa filosofia de tentar salvar os seus dentes remanescentes, que a natureza lhe deu e que a ética da medicina obriga a proteger.
Senhor Director Geral do Fundo Monetário Internacional, Senhor Doutor Dominique Strauss-Kahn, permita-me que lhe apresente um outro esquema de um plano de tratamento apresentado a um indivíduo que se deslocou à minha consulta. Professor Catedrático de uma conceituada Universidade Portuguesa…com 11 dentes na boca!


Foi Charlie Chaplin quem afirmou "um dia sem sorrir é um dia desperdiçado".
Dias desperdiçados é algo que a nossa economia dispensa. Pergunto-me qual é a perda de produtividade laboral que estas bocas efectivamente representam. Quantas vezes a mão esteve à frente da boca e não na caneta? Mais uma vez, não sei a resposta para estas perguntas.
Porém, sei que o custo de realizar um trabalho desta natureza é elevado e ronda perto dos 20 000 Euros.
Existem, por mera reflexão matemática, pelo menos 2 000 000 de portugueses nesta situação precária. E estou certo que não é o ordenado mínimo que a maior parte destes aufere que lhes permitirá tratar-se convenientemente.
Vossa Excelência mostrou-se disponível a ajudar Portugal através da injecção de capital que permita revitalizar a nossa economia. Já não é a primeira vez que o nosso país atravessa uma crise, não sendo também a primeira vez que o FMI intervém.
Contudo, julgo que existe pelo menos uma lição a retirar. Qualquer que seja o capital investido, tem de o ser feito de forma estratégia e com evidência de objectivos, planos e resultados a curto, médio e longo prazo.
Excelência, peço-lhe, com veemência, invista na boca dos portugueses. Verá que os resultados serão um país menos deprimido, mais feliz consigo próprio e, certamente, mais produtivo.
Num país evoluído, moderno e civilizado exige-se que as bocas estejam tratadas. Se considerarmos que existem 2 000 000 de portugueses a necessitar de um tratamento a rondar este valor, serão necessários 40 000 000 000 (quarenta mil milhões) de Euros. Poderão ainda ser descontados os 25 milhões de Euros que o Estado português, orgulhosamente, afirma que gastou na saúde oral dos portugueses, que continuará a ser apenas aproximadamente menos de metade do que Vossa Excelência se dispõe a injectar na economia e nos bancos portugueses.
Para além de que, ao menos assim, Vossa Excelência tem a garantia de saber onde é que o dinheiro vai parar. E da minha parte asseguro-lhe de que haverá informação permanente do estado do projecto e do investimento e prestação de contas.

Termos em que se requer a V.Exa.:
a)   Na necessidade de resolver o futuro do país o mais rápido que possível, sob pena de os portugueses ficarem perpetuamente sem saúde e sem dentes, peço-lhe que transfira 399 750 000 000  (trezentos e noventa e nove mil setecentos e cinquenta milhões) de Euros para a minha conta com o NIB: 0036 0199 99100045186 02 para que eu possa iniciar este árduo trabalho de pôr Portugal, na prática, a sorrir de novo. E, desta feita, verdadeiramente.

 
Espero Deferimento

Agradecendo antecipadamente a atenção dispensada,
Sem outro assunto de momento,

Subscrevo-me com as mais cordiais saudações europeístas,

Fernando Arrobas da Silva