quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Motivações que o país permite


Com o 25 de Abril abriram-se novos caminhos e alargaram-se horizontes. O ano de 1974 trouxe a possibilidade de se explorarem novas liberdades. Alguns partidos políticos emergiram da clandestinidade a que estavam confinados e outros simplesmente brotaram da vontade de marcar a diferença em termos ideológicos.

Atualmente, numa época em que a maioria das pessoas revela indiferença pelos assuntos políticos, é tempo de serem os jovens, os maiores potenciais agentes moduladores da sociedade, a assumir uma participação activa e séria. Provenientes do associativismo estudantil, de organizações não-governamentais, dos núcleos ou das juventudes partidárias, são alguns os que já participam. Contudo, são também muitos os adormecidos.

Num momento em que se vivem tempos complicados no Ensino Português e em que a evolução do país, no que respeita ao conhecimento e crescimento individual e colectivo, deve ter como desígnio a formação cívica, os sempre bem-vindos inquéritos europeus revelam que existe uma rampa crescente de influência estudantil nos governos de Ensino Superior. Em Portugal, formalmente e juridicamente, a participação estudantil está “aberta”, mas, decorrente da nossa cultura democrática mal aplicada, não são delegadas aos estudantes verdadeiras funções e envolvimento nas matérias específicas.

É certo que os estudantes de hoje não querem ser os desempregados de amanhã e, como tal, com a competição verificada a cada passo, os atos de cidadania são e terão de ser subalternizados. Cumprir os pergaminhos de Bolonha tornava-se aqui impreterível, quando refere a valorização extracurricular. No entanto, têm sido outras as motivações que o país permite.

Já foram aos milhares os que por esse país fora se licenciaram, sem saber ler, escrever ou fazer contas. Quanto mais com competências para a vida em sociedade.
Criou-se, nos últimos anos, um Ensino altamente permissivo no que diz respeito a subitamente se ficar altamente qualificado (ou classificado). Ser Doutor permite que se ascenda nas carreiras hierarquicamente e com salários muito superiores, mesmo sem saber ler, escrever ou fazer contas.

A consequência é que, de forma natural, a dependência contínua de ordens superiores a quem deram formação, faz com que os empregados se desliguem dos objectivos das empresas e tenham mais relutância em tomar como seus os objectivos das empresas que representam. Fará algum sentido dar formação a quem em seguida nos dará ordens? Tem de, obrigatoriamente, criar mal-estar.

Não se pode substituir a sociedade de classes pela sociedade de títulos, mas a verdade é que um título abre muitas portas em Portugal e “o que parece é”. A única mudança identificável do Processo de Bolonha e a suposta criação do espaço europeu de ensino, em que os novos mestrados correspondem às antigas licenciaturas, é nos restaurantes, pois, em vez do: “Sai uma Sopa e um Prato do Dia para o Doutor”, passou a sair “Uma Sopa e um Prato do Dia para o Mestre”.

Qualquer título confere apenas educação e sabedoria, não vaidade e arrogância. Todas as profissões são dignas. Primeiro senhores, depois doutores e engenheiros. Algo que os jovens deveriam ser ensinados a pensar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez tenha razão quando afirma que a maioria das pessoas revela indiferença pelos assuntos políticos se se considerar que a origem está no facto de os assuntos políticos que, manobrados pela classe que os gere, revelarem também eles uma indiferença pela maioria.
Partilho da sua opinião de que esperança está nos jovens. O futuro. Mas para haver futuro tem de haver presente. E esse presente deveria ser sínónimo de ensino de qualidade. Formação não só cultural, cientifica, linguistica, tecnológica, medicina, de respeito às diferentes religiões, Bolonha e o que ainda virá, mas também de valores! De respeitar o próximo a começar pelo circulo mais fechado e alastrando progressivamente até além fronteiras e nas relações entre países.
Se me permite eu acrescentaria à sua frase final, primeiro pessoas e depois então que venham os títulos para refinarem a base. Refinar mas não envaidecer.

Obrigado por este espaço de partilha de ideias.