Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Fernando Pessoa
Trabalhar com esperança
“ (…) É evidente que muito tempo vai passar, é possível que passem séculos sem que nós consigamos dar o salto, fazer uma transição de uma economia de trabalho para uma economia ou para uma vida que seja a do lazer. No fim de contas talvez possamos dividir a vida da Humanidade em três grandes períodos: um primeiro em que o Homem não entendia sequer o que era o trabalho” (…), “uma segunda época, a do trabalho, em que aparecem até metafísicas conducentes e disciplinadoras de tudo isso e o trabalho veio por aí fora e está sendo, já no nosso tempo, uma angustia para muita gente. Aliás, duas espécies de angústia: a daqueles que não trabalham e que se perguntam como é que vão comer, porque até agora só se pode viver apresentando provas de que se trabalhou; e por outro lado a angústia daqueles que trabalham, mas que estão com medo que o trabalho tome conta deles.” (…) “Tenho esperança de que isso acabe e de que se abra então uma terceira idade, em que os homens possam não ter a preocupação do futuro como, provavelmente, não tinham os da primeira época. Ter a ideia de ser o presente o mais belo, a mais bela dádiva que eles poderiam ter, cantá-lo, estudá-lo, meditá-lo, contemplá-lo, de todo o jeito, ao presente que passa e que passa rápido na nossa curtíssima vida e olhar para o futuro que dê plenamente essa capacidade de contemplação e de criação do homem, aproveitando tudo aquilo que foi feito com o sacrifício dos trabalhadores durante séculos e séculos. Provavelmente ainda levará muito tempo para isso, mas tenho esperança, tenho esperança (…)”
Agostinho da Silva
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