domingo, 26 de setembro de 2010

Universidade de Lisboa: consolidação da boa política e dos bons políticos

A primeira Universidade Portuguesa foi fundada em Lisboa, em 1290 por diploma de D.Dinis, de 1 de Março, sob autorização do Papa Nicolau IV.
A oportunidade da organização de uma Universidade em Lisboa dava, assim, ao clero, à "burguesia" e à então classe dos “letrados” a possibilidade de obterem de maneira mais adequada a preparação indispensável ao desempenho das suas funções.
Esta única universidade portuguesa foi várias vezes transferida de Lisboa para Coimbra e vice-versa, até que, em 1537, regressa a Coimbra onde fica como instituição única de ensino superior em Portugal.
E apenas em 9 de Março de 1911, por decreto do Governo Provisório da República Portuguesa, fundaram-se novas academias e congregaram-se as escolas e cursos superiores existentes na capital nas diversas faculdades do organismo e formaram definitivamente a Universidade de Lisboa.

Na Cidade Universitária, o maior campus de ensino superior do país, às faculdades de Ciências, Direito, Farmácia, Letras, Medicina, vieram juntar-se, mais tarde, as Faculdades de Psicologia e Ciências da Educação e de Medicina Dentária e de Belas-Artes, no Chiado, ambas integradas em 1991, fazendo juntamente com os seus Institutos e Museus, aquilo que ela é hoje, com a forte possibilidade de se tornar ainda maior com o possível ingresso de novas escolas, nomeadamente, a integração do Instituto Politécnico de Lisboa.

Ao longo da sua História foram várias grandes figuras Portuguesas que passaram pela Universidade de Lisboa: David Mourão-Ferreira, Fernando Pessoa, Egas Moniz, Ramalho Eanes, Florbela Espanca, Mários Soares, Jorge Sampaio, entre tantos outros.
Anos e anos para a competente e boa formação da esmagadora maioria dos governantes e de figuras ilustres do País. E, hoje, com a drástica redução do financiamento público remetem-na para a sobrevivência.


O Reitor, e bem, seguindo o programa estratégico “Uma Alameda de Futuros”, aprovado em conjunto com os seus novos Estatutos de 2008, tem conseguido criar uma nova ideia de Universidade com mudanças de fundo nas suas missões e organização.
Nessas discussões, era unânime que se tornava essencial reforçar o “sentimento de pertença à Universidade” e de identidade comum. Criar o conceito de “fui estudante em Lisboa.”
Desta feita, foi fundada, no dia 24 de Setembro de 2010, a Associação de Antigos Alunos da Universidade de Lisboa (UL-ALUMNI), fazendo sentir todos os que pela Universidade Lisboa passaram como uma força motora que contribui para um melhor futuro para o qual, afinal, todos lutam.
A Universidade de Lisboa mostra, assim, estar profundamente interessada em estreitar e reforçar as relações com os seus antigos alunos, para quem a “alma mater” da sua formação continua a assumir primordial importância, de modo a constituir um corpo forte, coeso e dinamizador de diversas actividades.

Nessa histórica Assembleia-geral constituinte foram também eleitos os novos corpos sociais. Será o seu 1º Presidente o Senhor Professor Doutor Guilherme D’Oliveira Martins e a Direcção será ainda composta pela Dra. Maria Barroso (Vice-Presidente), a Professora Doutora Luísa Cerdeira (Tesoureira) e o Professor Doutor António Vasconcelos Tavares (Secretário).
Numa era de descrédito com as classes políticas, a Universidade de Lisboa ainda se constitui no âmbito da consolidação da boa política e dos bons políticos para Portugal.
Mesmo com as grandes dificuldades que se atravessam uma grande vitória da Universidade, em ano de celebração do seu centenário. Para mais se seguirem.

Eu próprio, apenas muito recentemente antigo aluno da Universidade de Lisboa, onde me licenciei em Medicina Dentária e pela ligação que tive e me permitiu os meus primeiros anos de Licenciatura na Vida, não podia ter deixado de estar presente.
Recebi o convite para vogal desta 1ª Direcção. Orgulho para não mais esquecer.

AD LVCEM

Faça-se Luz

sábado, 25 de setembro de 2010

Alguém quer um par de boxers usados?

É um facto que todas as religiões possuem um sistema de crenças baseado no sobrenatural. Entre muitas crenças, uma delas é a purificação do corpo, que tem como objectivo a purificação da alma. Este ritual é uma característica comum a todas as religiões, cujo objectivo é remover quaisquer impurezas antes de se proceder à adoração de uma Divindade.

Cerca de três mil anos antes de Cristo, os sacerdotes do Antigo Egipto entravam em procissão nos templos com trajes brancos, purificavam-se com água e queimavam incenso. Na Grécia Antiga, os sacerdotes purificavam os fiéis derramando sobre eles água salgada, envolvendo-os em fumo e tocando o sino que afugentava os maus espíritos.

Numa fase da Humanidade em que muitas crenças foram desprezadas, descontextualizadas e mesmo desacreditadas devido ao avanço da ciência e da tecnologia, o ser humano continua, consciente ou não, a praticar rituais de toda a espécie. O caso do baptismo e o facto da noiva se vestir de branco no dia do seu casamento, são os casos mais comuns, conhecidos e talvez, mais banais para nós.

Há dias ouvi uma história que me fascinou. Esta história foi-me contada na primeira pessoa por uma mulher inteligente, auto-confiante, independente e a quem tenho o orgulho de chamar minha amiga.
Pessoa pouco dada a aventuras despegadas e sem base emocional, tão comuns nos dias que correm, teve em 32 anos de vida, 3 namorados. Até aqui nada de novo. Extraordinário é o ritual que esta mulher executa sempre que inicia uma relação amorosa.
Este ritual consiste na renovação do seu armário no que à roupa interior diz respeito, ou seja, compra peças de roupa interior todas novas e desfaz-se de toda a roupa (interior) existente no seu armário, que até aí teve contacto com o amante passado. Fantástico! Acredito que este comportamento materializa uma entrega total ao objecto da sua paixão e de rompimento com o passado, passado esse que é tantas vezes alvo de ciúme e que neste caso morre... à nascença. Mas mais importante do que o ciúme (que quando lidado da melhor maneira pode até ser um reforço do amor), esta mulher apresenta-se renovada, purificada, como se fosse a primeira e única vez que se entrega... porque na realidade é isso que acontece! Cada amor é único, absoluto e deve ser vivido como tal, como se, cada vez que amamos, conseguissemos ser uma folha em branco para que em nós pudessem ser escritos os mais belos poemas de amor ou simplesmente rabiscos de planos futuros.
Benditos todos aqueles, homem ou mulher, que se purificam antes de procederem à adoração de uma (nova) Divindade.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A proporção áurea no sorriso

Nota: Se não conseguir ver as imagens, é so carregar sobre elas e serão automaticamente aumentadas.

O mais antigo cânon das proporções humanas foi encontrado numa câmara mortuária nas pirâmides de Mênfis, a capital dos grandes faraós, datado de 3000 anos a.C.
Desde então, e até hoje, artistas e cientistas têm-se dedicado em desvendar os mistérios das relações proporcionais do corpo humano. São conhecidos os cânones do império faraónico, da era ptolemaica, dos gregos e romanos, o cânon de Policleto, que determinava que o total do corpo era sete vezes o tamanho da cabeça, e a mundialmente conhecida obra de Albrecht Dürer.

                                
Entre todas as formas de estabelecer proporções, uma das mais conhecidas é a proporção áurea, divina ou “mágica”, que representa a fórmula matemática que define a harmonia nas proporções de qualquer figura, escultura ou monumento.

Já reconhecida e registada no Antigo Egipto e popular na arte romana e arquitectura grega foi denominada “proporção áurea” por Luca Pacioli, em 1509, e amplamente aplicada por diversos artistas na época do Renascimento como Leonardo da Vinci e Michelangelo.

A proporção áurea simboliza, no fundo, a “propriedade divina” da relação de Fibonacci ou a “proporção divina” de Pitágoras, através da seguinte fórmula, em que o S representa o número anterior e L o número ulterior na sequência:

Esta proporção é de 1,0 para 1,618 que, em números inteiros pode ser expressa como 3 para 5, 5 para 8, 13 para 21 e assim progressivamente exactamente como a sequência de Fibonacci:
 


Em Medicina Dentária Estética são requeridos vários elementos para a unidade e estética ideais, sendo um deles a proporção dentária. Segundo alguns autores, a perspectiva de harmonia do sorriso pode ser percebida pela relação proporcional áurea existente entre a largura do sorriso, o segmento dentário anterior e o corredor bucal. Multiplicando-se metade da largura do sorriso por 0,618 obtém-se o valor do segmento dentário anterior de incisivo central a canino e, este valor, multiplicado por 0,618, por sua vez, estabelece a largura do corredor bucal.


A aplicação da proporção áurea na estética dentária foi descrita inicialmente por Lombardi, em 1973, e, depois, por Levin, em 1978, que usou a proporção áurea para relatar as sucessivas larguras dos dentes anteriores com o objectivo de auxiliar a selecção e montagem de dentes. Assim, para os princípios da proporção áurea serem aplicados, foram criadas, por Levin, grelhas para a avaliação da medida da amplitude do sorriso e da porção visível dos dentes.
A análise da proporção áurea pode ser aplicada de uma forma unilateral ou bilateral. Este é um caso, relatado por Mondelli no seu livro, no qual foi aplicada a proporção áurea:
 
É notório que as relações proporcionais/áureas sempre estiveram presentes durante toda a história do ser humano. No que diz respeito ao sorriso, a maior parte dos estudos que encontramos demonstram que a maioria das vezes a proporção áurea não é encontrada na composição dentária da população em geral.
Como tal, não deve ser aplicada sistematicamente em todos os casos, devendo servir principalmente como guia de diagnóstico e ser aplicado a cada caso em particular, tendo em conta a experiência, a sensibilidade clínica do Médico Dentista e os factores individuais da pessoa que estamos a tratar.

A natureza fundamental da beleza humana é algo demasiado complexo para se medir ou avaliar apenas de régua, esquadro e compasso.

A proporção áurea é, pois, um mito, visto que até os desalinhamentos, as rotações ligeiras e as demais discrepâncias subtis podem providenciar o conceito de beleza mais difícil de reproduzir: a naturalidade, a personalidade e a harmonia dentro da assimetria de cada um.

Na minha opinião, Leonardo da Vinci foi desdentado total

Imaginemos ver na rua uma pessoa desdentada: o que nos perturba não é a forma dos lábios, ou os poucos dentes que restaram, mas o facto de os dentes que ficaram não serem acompanhados pelos outros que lá deveriam estar. Não conhecemos aquela pessoa, aquela fealdade que nos envolve emocionalmente. Contudo, perante a incoerência ou incompletude daquele conjunto, sentimo-nos autorizados a dizer apaixonadamente que aquele rosto é feio. (Umberto Eco in História do Feio)

As consequências de alguém que perdeu os dentes são, para além da decorrente reabsorção óssea e das alterações da coordenação muscular e naturais influências do padrão mastigatório e da fonação, as consideráveis modificações na estética facial do indivíduo. E, com tudo isto, os factores psicológicos negativos que são criados.

De seguida, apresenta-se uma imagem de um desdentado total e a descrição das principais estruturas afectadas na sua estética facial:



Existe um desaparecimento do filtro labial.


Existe uma inversão das comissuras labiais.


Existe um acentuamento dos sulcos naso-genianos.


Um acentuar das rugas labiais, ficando também os lábios mais finos.


Verificando-se, ainda, uma diminuição da altura do terço inferior da face e um prognatismo relativo (avanço da mandíbula em relação ao maxilar superior).


Leonardo da Vinci é considerado por muitos como o maior génio da história.
Foi pintor, arquitecto, engenheiro, cientista e escultor do Renascimento e são impressionantes os seus estudos em ciências e as criações de engenharia que realizou, que se encontram registadas em cadernos que incluem perto de 13.000 páginas de notas e desenhos que fundem arte e ciência.

Os seus trabalhos artístiscos são altamente reconhecidos, onde se incluem obras como A última ceia ou, para citar talvez o mais conhecido, A Mona Lisa.
Entre diversas teorias, existem algumas que apontam essa obra como um auto-retrato de Leonardo, mas com feições femininas, explicando assim o sorriso ambíguo.

As lendas em volta de Leonardo da Vinci são múltiplas e elas inspiram até hoje imaginações em todo o seu limite e foi por isso que, deparando-me com o seu último auto-retrato, datado de aproximadamente 1515 (Leonardo teria 63 anos), decidi sugerir que, nesta fase da sua vida, é provável que se pudesse encontrar edêntulo.

Ora, agora que conhecemos as características faciais de um desdentado total, analisemos o retrato:


Numa análise científica, meramente baseada na evidência, note-se a marcação dos sulcos naso-genianos, a ausência do filtro labial, as comissuras labiais invertidas, os lábios finos, o terço inferior da face diminuído e um prognastimos relativo, embora a barba ajude a disfarçar.


Grande inventor da sua época, Leonardo da Vinci era um homem à frente do seu tempo. E, como tal, já tinha deixado preparada a resposta para esta observação, chegasse ela quando chegasse:

" Era uma vez um rapaz que tinha o vício de falar mais do que devia.

- Que língua! – Suspiravam, um dia, os dentes. – Nunca está quieta! Nunca se cala!

- Que estão vocês a murmurar? – Replicou a língua com arrogância. –Vós, os dentes, não sois mais do que servos unicamente encarregados de mastigar os alimentos que eu escolho. Entre nós não há nada em comum e não vos permito que se metam nos meus assuntos.

Deste modo, o rapaz continuava a dizer coisas que não vinham a propósito, enquanto a língua, feliz, conhecia todos os dias novas palavras.

Um dia, o rapaz depois de ter feito uma tolice autorizou que a língua dissesse uma grande mentira. Mas os dentes, obedecendo ao coração, morderam-na.

A língua ficou corada de sangue e o rapaz, arrependido, corou de vergonha.

Desde aquele dia a língua tornou-se cautelosa e prudente e antes de falar pensava duas vezes.

Contos de Leonardo da Vinci - A língua mordida pelos dentes

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Conversas entre... PS e PSD

Vivemos num momento em que é mais importante o desenvolvimento e o bem do País ou as intrigas ideológicas?

Incrível, como quando lemos Eça de Queiroz, e sabendo que tudo foi escrito há dois séculos atrás, tudo se mantém tão contemporâneo e, ainda hoje, a política, tal como a sociedade, precisa de uma mudança. Será que Eça é que era demasiado evoluído ou nós demasiado atrasados? Talvez os dois.

“ Caminhamos para uma ruína! – exclama o Presidente do Conselho. – O défice cresce! O País está pobre! A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc...»
Mas então o partido regenerador, que está na oposição, brame de desespero, reúne o seu centro. As faces luzem de suor, os cabelos pintados destingem-se de agonia, e cada um alarga o colarinho na atitude de um homem que vê desmoronar-se a Pátria!

– Como assim! – Exclamam todos – mais impostos!?
E então contra o imposto escrevem-se artigos, elaboram-se discursos, tramam-se votações! Por toda a Lisboa rodam carruagens de aluguel, levando, a 300 réis por corrida, inimigos do imposto! Prepara-se o cheque ao ministério histórico... Zás! cai o ministério histórico!

E ao outro dia, o partido regenerador, no poder, triunfante, ocupa as cadeiras de S.Bento. Esta mudança alterou tudo: os fundos desceram mais, as transacções diminuíram mais, a opinião descreu mais, a moralidade pública abateu mais – mas finalmente caiu aquele ministério desorganizador que concebera o imposto, e está tudo confiado, esperando.
Abre a sessão parlamentar. O novo ministério regenerador vai falar.

Os senhores taquígrafos aparam as suas penas velozes. O telégrafo está vibrante de impaciência, para comunicar aos governadores civis e aos coronéis a regeneração da
Pátria. Os senhores correios de secretaria têm os seus corcéis selados!
Porque, enfim, o ministério regenerador vai dizer o seu programa, e todo o mundo se assoa com alegria e esperança!

– Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho.
O novo presidente: «Um ministério nefasto (apoiado, apoiado! – exclama a maioria histórica da véspera) caiu perante a reprovação do País inteiro. Porque, Senhor
Presidente, o País está desorganizado, é necessário restaurar o crédito. E a única maneira de nos salvarmos...»

Murmúrios. Vozes: Ouçam! Ouçam!

«...É por isso que eu peço que entre já em discussão... (atenção ávida que faz palpitar debaixo dos fraques o coração da maioria...) que entre em discussão – o imposto que temos a honra, etc. (apoiado! apoiado!

E nessa noite reúne-se o centro histórico, ontem no ministério, hoje na oposição. Todos estão lúgubres.

– «Meus senhores – diz o presidente, com voz cava. – O País está perdido! O ministério regenerador ainda ontem subiu ao poder, e doze horas depois já entra pelo caminho da anarquia e da opressão propondo um imposto! Empreguemos todas as nossas forças em poupar o País a esta última desgraça! – Guerra ao imposto!...»

Não, não! Com divergências tão profundas é impossível a conciliação dos partidos!”

Eça de Queiroz
In Uma Campanha Alegre – Volume I


Todos os dias ouvimos dizer que o país está perdido. “De Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País está desorganizado”. Ninguém se ilude, perdendo-se, através de tudo isto, o sentimento de pátria.

Estará mesmo de Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País tão desorganizado? Talvez pudesse estar melhor, mas talvez também pudesse estar pior.

A verdade, e o que efectivamente importa, é a concretização de políticas necessárias e indispensáveis.
"Também só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. E de mostrarmos ao mundo os nossos sucessos.", como escreveu um dia Nicolau Santos, director-adjunto do Jornal Expresso no seu Elogio a Portugal. 


É que Eça de Queiroz, quando o acusaram também de “estrangeirado” e “afrancesado” e de contribuir para “desaportuguesar” Portugal, pelo exagero de francesismos nas suas obra, com razão, disse: “Apenas nasci (…), eu comecei a respirar a França. Em torno de mim só havia a França. De cavaleiros portugueses, que dessem cutiladas nos mouros, nunca me contaram história alguma à lareira.”

A política precisa de se autonomizar e em Portugal o cidadão não pode desaparecer. É necessário que a inteligência e a consciência estejam em vigor, trabalhando, pois se Portugal não tem fé em si próprio, orgulho nos seus princípios e não se relata, não pode propriamente ter costumes.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Papisa Joana: elevação a padroeira da violência doméstica

A violência doméstica não é propriamente um assunto novo. Já em várias histórias presentes na mitologia grega, muitas são as divindades masculinas do Olimpo que praticavam compulsivamente a violência física e sexual.

A noção de violência como realidade social é tão antiga como a existência histórica do Homem. Desde a sua manifestação em grande escala nos tempos mais remotos, passando pela sanguinária Idade Média, apenas a partir do século XVIII, período de charneira no processo de civilização, de onde são grandes expoentes a Revolução Francesa e a Independência dos EUA, começa-se a ver desaparecer as formas primitivas de violência predominantes, entrando-se nos novos conceitos de liberdade e igualdade dos indivíduos.

Jean Claude Chesnais, ao estudar dois séculos de violência na Europa, mostra que as variáveis fundamentais da significativa diminuição da criminalidade, da delinquência e das mortes violentas no berço do Ocidente foram as lutas dos trabalhadores por melhores condições de vida e maiores direitos associadas à institucionalização da educação formal e do Estado democrático.
Foi, pois, finalmente com a emergência do Estado moderno e o fortalecimento do seu aparelho, através da polícia e da justiça, associadas ao lento desaparecimento da escassez e da fome que a acompanhava, juntamente com o aumento do nível de instrução decorrente da industrialização e da urbanização, que surge finalmente uma valorização da vida, que explica o abrandamento e humanização de costumes na sociedade ocidental até aos dias de hoje, inclusivamente com a criação, ao longo do século XX, de organizações e declarações de defesa dos direitos dos indivíduos.

A contingência de unir a prevenção da violência doméstica à área da saúde é uma medida actual e que faz todo o sentido no combate a esta “pandemia.”

Embora se encontrem poucos relatos históricos a seu propósito, a relação destas duas poderá não ser recente.

Numa história pouco conhecida, ao longo de séculos considerada por uns como verdadeira e por outros não, encontra-se uma médica vítima de violência doméstica, por em criança querer estudar, que alegadamente chegou a ocupar durante dois anos, desde 853, o cargo mais elevado da Igreja Católica e do Mundo, até ter morrido de parto em 855.

Numa era em que a vida naqueles tempos conturbados era especialmente difícil para as mulheres, em que se acreditava que o sangue menstrual azedava o vinho, arruinava as colheitas, tornava as lâminas rombas, enferrujava o metal e infectava as mordeduras dos cães com um veneno mortal, estas eram sempre tratadas como se fossem menores, sem quaisquer direitos legais ou de propriedade. A lei, inclusivamente, previa que pudessem ser espancadas pelos maridos e a violação era considerada uma forma menor de roubo. Também a educação das mulheres era desencorajada porque uma mulher instruída era considerada não só contra a natureza, como perigosa.

De acordo com o livro de Donna Woolfolk Cross (2000) que relata esta história, corria então o ano de 853 quando o médico do Papa recém-falecido é eleito como o novo Papa em Roma, de seu nome João VIII. O que ninguém sabia é que este novo Papa era uma mulher, de seu nome Joana, que para salvar a vida e conseguir mitigar a sua sede por sabedoria vestiu a pele de um homem e dedicou a sua vida à religião.
Joana/João VIII não é encontrado nos anais da história do Vaticano porque supostamente os registos terão sido apagados. Contudo, ainda são argumentados alguns pontos que parecem provar a existência de uma mulher no trono do Papado, nomeadamente o “exame de cadeira” a que todos os que acediam a esse cargo eram submetidos e que consistia em sentar o eleito numa cadeira semelhante às actuais sanitas e ter os seus órgãos genitais examinados por um prelado, que seguidamente declarava, in magna quantitá, ao povo que o eleito se tratava de um homem, entregando-lhe em seguida as chaves de S. Pedro, um cuidado que não deveria existir se não houvesse antecedentes.

Este exame, parte da consagração papal medieval, durou cerca de 600 anos e começou pouco depois do suposto reinado de Joana. Verdade ou lenda, trata-se de uma descrição com mestria de uma época de obscurantismo e das mais penalizadoras para a mulher.

Sendo um dia o combate à violência doméstica enquadrado num domínio específico da medicina, podia bem a Papisa Joana ser considerada a sua padroeira.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Falar em público

Mais do que as alturas, falar perante grupos de pessoas ou plateias é recorrentemente considerada das primeiras coisas que se afirma temer.
A razão da exposição e a clara passagem da mensagem e, consequentemente, o que a assistência vai sentir e fazer são tudo questões sem resposta, até acontecerem.

A maior parte, senão todas, as exposições públicas encontram-se numa das três categorias: convencer, informar ou divertir. E o objectivo da maioria dos oradores inclui una combinação destas três.
Wodie Allen foi o primeiro a dizer “Primeiro fá-los rir e depois terás toda a sua atenção”. É uma receita importante até porque o humor pode ajudar a estabelecer uma relação amigável com a assistência. Contudo, difícil, pois como o humor tem de ser original, pode ser muito sintomático no discurso não recuperar da sensação desagradável provocada por a audiência ter fingido que achou graça.
O mais importante acho que é mesmo a qualidade. Já todos ouvimos brilhantes discursos e já todos ouvimos também péssimos discursos. Já todos assistimos a fantásticas palestras e já todos “adormecemos” também em aborrecidas palestras. Já todos tivemos aulas na faculdade imperdíveis e já todos tivemos cadeiras que não pusemos os pés numa aula (não corresponderão necessariamente as minhas faltas às de outros, pois aí vem a velha máxima “que gostos não se discutem”).
É óbvio que há também coisas básicas que não se podem fazer, tais como introduções muito palavrosas, pressas para chegar ao final, terminar com murmúrios finais e, pior que tudo, falta de boas maneiras, mas cedo aprendi a lição de que é sempre melhor ouvir um verdadeiro conhecedor, uma fonte inesgotável de saber, do que um bom pedagogo nada conhecedor.

Nunca é mau ser-se um bom orador (há a excepção de depois os ouvintes serem sempre exigentes), mas ninguém nasce ensinado, simplesmente há alguns que têm mais jeito que outros. Porque praticam? Muitos oradores inexperientes evitam este passo porque pode ser assustador, mas é lógico que a prática e a coragem ajudam.

É claro que a prática e a coragem permitem que se adquira mais confiança, que se introduzam e concluam os assuntos com mais veemência e que se utilize eficazmente a linguagem, conquistando, com mais credibilidade, as assistências. Porém, não há nada como acreditarmos mesmo naquilo que dizemos: aquilo que não é proferido, por vezes, diz mais que as palavras.

E mesmo depois de alguns anos de experimentação de “confronto” de distintas e exigentes plateias, o nervoso miudinho e o joelho que treme estão lá sempre. São depois facilmente ultrapassados pelo início e pela experiência, mas, para quem nunca experimentou, fique sabendo que só mesmo nos dias em que se sobe ao palanque é que se tem noção do tamanho da sala.

Cada homem tem a sua canoa

É com grande honra que escrevo neste espaço privilegiado, local onde poetas, cientistas, exploradores, músicos e pensadores de todo o mundo, imortais de todos os tempos, se reunem aqui nesta mesa. Para a minha primeira publicação escolhi homenagear um herói dos nossos tempos.
Hoje chega até nós Amyr Klink, explorador, aventureiro, escritor e comandante de embarcação. Amyr Klink nasceu em São Paulo no dia 25 de Setembro de 1955, filho de pai libanês e mãe sueca. Começou a frequentar a região de Paraty, no estado do Rio de Janeiro com a família quando tinha apenas dois anos de idade. Esta cidade histórica do litoral brasileiro é o lugar que o inspirou a viajar pelo mundo. Desde 1965 que é coleccionador de canoas antigas, e talvez essa paixão infantil por canoas fosse a antecâmara para a grande paixão da sua vida adulta: a de navegar sozinho.

Em 1978, realizou a travessia solitária de Santos-Paraty em canoa e em 1980 realizou de catamaran o trecho Paraty-Santos e Salvador-Santos, igualmente em catamaran durante 22 dias. Ambas aventuras seriam meramente treino para o feito que iria permitir que escrevesse o seu nome na história: este ocorreu entre o dia 10 de Junho a 19 de Setembro de 1984 quando realizou a travessia solitária, num barco a remo, do Oceano Atlântico! Foi um percurso de sete mil quilómetros entre Luderitz, Namíbia e Salvador, na Bahia. Foram exactamente 100 dias que Amyr demorou a alcançar essa façanha inédita, descrevendo na perfeição a viagem com todos os sobressaltos e imprevistos a serem pormenorizadamente relatados no seu livro "Cem dias entre céu e mar".

Constantemente insatisfeito e com o impossível no seu horizonte, iniciou, em Dezembro de 1989, o Projecto de Invernagem Antárctica, mais uma vez em solitário, a bordo do veleiro polar "Paratii", quando percorreu 27 mil milhas da Antárctica ao Ártico, em 642 dias. Os livros "Paratii - Entre dois pólos" e "As janelas do Paratii" relatam e ilustram esta aventura. A 31 de Outubro de 1998 abraçou mais um projecto inigualável: "Antárctica 360" - uma volta ao mundo pelo caminho mais difícil: a circunavegação em torno do continente gelado. Durante 79 dias, Amyr Klink enfrentou sozinho os mares mais imprevisíveis do planeta e muitos icebergs. É no livro “Mar sem Fim” que se encontra o relato desta viagem.

Que as suas viagens e façanhas nos inspirem, a todos, a viajar mas também que as nossas viagens nos tornem ainda mais sonhadores e humildes pensadores... passo agora a palavra a quem já esteve, está e estará para sempre em movimento, qual rapazinho de 10 anos, na sua eterna canoa:

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias e imagens, livros ou televisão. Precisa viajar por si, com seus olhos e com os seus pés. Para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa de viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e ir simplesmente, ver.” Amyr Klink

domingo, 19 de setembro de 2010

Porquê também de Desporto pode viver a crónica.

Segundo reza a história, “A 16 de Março de 1974, militares do regimento de Infantaria 5, aquartelados nas Caldas da Rainha, insubordinaram-se e avançaram tropas da companhia aerotransportada em direcção a Lisboa. O Governo já estaria previamente avisado desta tentativa de revolução e quando os revoltosos chegaram à capital tinham à sua espera forças dos regimentos de Artilharia 1, de cavalaria 7 e da GNR. Regressaram às Caldas e, de acordo com o comunicado emitido nesse sábado pela Direcção Geral da Secretaria de Estado do Turismo e da Informação, ter-se-ão «rendido sem resistência». Este golpe tem sido apontado como um primeiro ensaio para a Revolução de Abril e serviu de inspiração para uma crónica de um jogo entre o Sporting e o F.C. Porto, realizado no dia 17 de Março.
Numa altura em que a censura passava a pente fino cada artigo a publicar nos jornais, um repórter do jornal A Republica encontrou uma forma de «enganar» os senhores do «lápis azul». Eugénio Alves, assim se chamava o jornalista encarregue da cobertura desse Sporting-F.C. Porto, escreveu uma crónica recheada de metáforas, que deve ter “fintado” os censores e que acabou por ser um grito de esperança numa revolução que não tardaria.
O título da crónica desse encontro era «Quem travará os leões». Mas é no lead da crónica que se encontram as referências encapotadas (?) a esse golpe abortado de 16 de Março. Aqui se transcreve esse parágrafo que não deve ter deixado ninguém indiferente: «Os muitos nortenhos que no fim-de-semana avançaram até Lisboa sonhando com a vitória acabaram desiludidos com a derrota. O adversário da capital, mais bem organizado e apetrechado (sobretudo mais bem informado da sua estratégia), contando ainda com uma assistência fiel, fez abortar os intentos dos homens do Norte. Mas parafraseando o que em tempos dissera um astuto comandante, perdeu-se uma batalha, mas não se perdeu a guerra».” escrevia o site Maisfutebol numa crónica antiga que fiz questão de copiar.

E todos sabemos o que aconteceu a 25 de Abril de 1974.

A vertente político-social dos fundadores dos clubes teve influência na formação destes e o Benfica, o clube do povo e das massas, foi o que teve maior destaque nos tempos ditatoriais.
Desde as bandeiras do Benfica que substituíram as da antiga União Soviética (proibidas) aquando das manifestações populares que se seguiram à vitória aliada na II Guerra Mundial (1945) à proibição dos jornais falarem nos “vermelhos” quando se referiam ao Benfica, passando a denominá-los “encarnados”, até ao silenciamento progressivo do antigo hino do Clube, composto por Félix Bermudes em 1929, denominado “Avante pelo Benfica!”, passando por inaugurações do seu estádio no Campo Grande (cujo nome do estádio era 28 de Maio em homenagem ao Golpe do 28 de Maio, também conhecido pelos seus herdeiros do Estado Novo por Revolução Nacional) a 5 de Outubro, data comemorativa da implantação da República, foram exemplos significativos do seu peso social anti-regime.

Por via das suas vitórias europeias e de ter Eusébio nas suas fileiras foi, para o exterior, a única boa imagem de um País oprimido, silencioso e ofuscado no regime. Foi a alegria de milhares de emigrantes e expatriados. Porque no Benfica já havia democracia quando ela, mais tarde, chegou ao País, com célebres assembleias-gerais e eleições, e nele chegaram a lugares de destaque conhecidas figuras da oposição.
Como Presidentes, estava um operário, tal como foi Manuel da Conceição Afonso ou um aristocrata, como foi Duarte Borges Coutinho, com igual dignidade. No Estádio da Luz, “a boina e garrafão” estavam ao lado do “laço e camisa”.
Tolerância, pluralidade e democracia são valores que nasceram com o Benfica e que continuam a ser praticados. Homens como Espírito Santo, Coluna e Eusébio são ainda exemplos vivos da dimensão desportiva, social e humana deste Clube.

Passados mais de 30 anos, foram muitas as transformações que o futebol sofreu, quer a nível das suas estruturas, quer a nível dos clubes e jogadores.
No fundo, assistiu-se à aplicação do profissionalismo, para o qual contribuiu muito a melhoria das condições financeiras dos clubes, que se preocupam cada vez mais com a sua estrutura, organização, merchandising, direitos televisivos e Guiness book.

Hoje em dia, o jogador é um trabalhador normal, enquanto há uns anos ele fazia parte do clube. Era um adepto. Era quase como um sócio que tinha oportunidade de jogar no clube onde gostava cujos ideais defendia. Agora não. Tal como outro trabalhador que muda de empresa com alguma regularidade, o jogador também muda de clube.

E há Apito Dourado. E há as ofensas. E há os very-lights. E há…E há…E há… E há a consequente desmistificação do desporto.

Muito mudou, mas o Desporto ainda tem o seu maior activo, fruto da sua importância na História: acende o calor humano. E, embora adormecido, ninguém lho tira, como foi provado no Euro 2004. E já se pensa em Mundial.
A História do Desporto fala por si. E por Portugal. Logo, haja respeito.

E, já agora, hoje, mais uma vez, dentro do campo o Benfica ganhou ao Sporting.

Conversas entre... Eça de Queiroz e Agostinho da Silva

“ – Senhor – disseram – espalhou-se por aí que vindes restaurar o País. Ora deveis saber que um partido que traz uma missão de reconstituição deve ter um sistema, um princípio que domine toda a vida social, uma ideia sobre moral, sobre educação, sobre trabalho, etc. Assim, por exemplo, a questão religiosa é complicada. Qual é o vosso princípio nesta questão?– Economias! – Disse com voz potente o partido reformista.
Espanto geral.
– Bem! e em moral?
– Economias! – Bradou.
– Viva! e em educação?
– Economias! – Roncou.
– Safa! e nas questões de trabalho?
– Economias! – Mugiu.
– Apre! e em questões de jurisprudência?
– Economias! – Rugiu.
– Santo Deus! e em questões de literatura, de arte?
– Economias! – Uivou.
Havia em torno um terror. Aquilo não dizia mais nada. Fizeram-se novas experiências. Perguntaram-lhe:
– Que horas são?
– Economias! – Rouquejou.
Todo o mundo tinha os cabelos em pé. Fez-se uma nova tentativa, mais doce.
– De quem gosta mais, do papá, ou da mamã?
– Economias! – Bravejou.

Um suor frio humedecia as camisas. Interrogaram-no então sobre a tabuada, sobre a questão do Oriente...
– Economias! – Gania.
Foi necessário reconhecer, com mágoa, que o partido reformista não tinha ideias.
Possuía apenas uma palavra, aquela palavra que repetia sempre, a todo o propósito, sem a compreender.”


Eça de Queiroz, in Uma Campanha Alegre


Os economistas tinham sobretudo a obrigação de não nos andarem a calcular inflações e a taxa de juro (e essas coisas), mas dizerem de que maneira é que nós podemos fazer avançar a gratuitidade da vida.
Agostinho da Silva

As mulheres não acompanham um Homem com uma ideia

Gostar de quem não gosta de nós? E não gostar de quem gosta de nós? Acontece.
Quando se fala de sedução, pensa-se sempre na figura do sedutor. Habitualmente, nem se fala na figura do seduzido.
Nos múltiplos aspectos da vida, já todos passámos por ambos e se há verdade é que ninguém garante a fórmula da sedução. A única garantia, visto que já não vivemos na era do estilo “andar deprimido e de barba e cabelo comprido” é que lá mais para o Verão, a Primavera há-de chegar.

Mas se há verdade bem maior é que os primeiros namoricos, aos 15 anos, com os beijos na boca muito à pressa, eram bem mais simples. Hoje, jovens adultos, as exigências são naturalmente maiores. Ao início fantástico de qualquer relação, seguem-se naturalmente as desavenças: o grande stress do dia-a-dia, o trabalho avassalador e erradamente prioritário, o querer mudar o Mundo, as preocupações, os desgostos. Tudo razões para que uma relação não resulte. É a procura do sucesso que muitas vezes significa a perda da integridade e o afastamento da relação apaixonada.

A adicionar a falta de compreensão de Homens sobre Mulheres e de Mulheres sobre Homens, subitamente, ambos cansados, ambos desgastados, ambos impacientes, dão abertura a novas experiências e diferentes alegrias, que tragam novos fulgores e, imediatamente, mesmo que durante algum tempo na penumbra, grandes problemas.

Ainda vivemos numa era em que a traição masculina é natural e a feminina condenável. Como tal, com essa estigmatização, são muitos os casais que “sobrevivem” à infidelidade masculina e poucos os que ultrapassam a feminina.
De facto, há valores que devem ser revistos e o caminho deve ser o da infidelidade masculina se tornar condenável e não o da infidelidade feminina se tornar natural.

Nem todas as relações que correm mal acabam em traição. Há relações que, por mais que se tente não têm mesmo solução, mais valendo acabar, assumindo que a culpa é certamente dos dois. Mas a verdade é que até aí o binómio retoma: para o Homem a rapidez de acção abrevia o sofrimento e a Mulher economiza a dor.

Nunca ouvi, nem em filmes, a resposta concreta à pergunta “o amor existe?”, quanto mais acertar em qualquer uma destas matérias. Mas, no meio de tanta verdade, tenho de admitir que o título desta crónica é mentira. As mulheres acompanham um Homem com uma ideia. Eles é que, erradamente, às vezes, mais preocupados com as suas ambições de alcançar o Mundo, se esquecem que as mulheres delirantes, cheias de humor, de naturalidade e de sedução, têm de vir sempre em primeiro lugar, pois, no fim de tudo, se alguma coisa profundamente verdadeira se pode dizer é que elas, as mulheres virtuosas, valem muito mais do que nós.

Amenas cavaqueiras e verdadeiras amizades

A cerveja é uma bebida fermentada. Acredita-se que tenha sido a primeira bebida alcoólica desenvolvida pelo homem e era já conhecida pelos sumérios, egípcios e mesopotâmios, desde pelo menos 4 000 a.C.

Num ranking Europeu de 2007, no que diz respeito ao consumo de litros de cerveja por ano, a República Checa vem no primeiro lugar com uma média de 156.9 e Portugal vem no vigésimo lugar com 59,6.

Portugal encontra-se, no entanto, nos últimos lugares no que diz respeito à segurança rodoviária, chegando a morrer anualmente 2000 pessoas nas estradas. Apresentamos, de facto, um subdesenvolvimento considerável na área rodoviária: os relatórios do Ministério da Administração Interna não vão além das análises das estatísticas da GNR e PSP, não havendo sincera preocupação em diminuir a agressividade do meio, e no final ninguém está para colocar o cinto-de-segurança às crianças do banco de trás.

Urge a existência de investigações de carácter científico a propósito da sinistralidade, urge a formação cívica continuada, urge que as campanhas alcancem as pessoas. E o alcoolismo é um dos maiores problemas.

Não é por acaso que a cerveja atinge os índices relatados no primeiro parágrafo. A cerveja permite a alegria, o sorriso, o mais tímido dizer qualquer coisa, tornando-se, por vezes, no mais afoito.
Nos nossos anos académicos e de juventude, quantas são as tertúlias, as conversas, quantos são os jantares infindáveis e as saídas a noite, terminando apenas com a subtileza de quem vem varrer para perto de nós como quem diz “está na hora!”.

Acho até que das discussões (discussões no bom sentido) mais brilhantes que tive foram em mesas de restaurantes e cafés escolhidos a dedo, por serem baratos e estarem abertos até tarde, com um brilhozinho nos olhos.

Então no calor do Verão, na vivência concreta dos dias de praia, nos fins de tarde para sempre recordáveis, nas noites com camisa de manga curta, o quanto sabe bem uma cerveja…

E depois chegam-nos notícias de acidentes rodoviários por excesso de álcool…

Que se aproveite a cerveja para a diversão, para a cultura e para o convívio, não para conduzir melhor ou para o exibicionismo.
E aí penso: depois de quantas bem regadas “amenas cavaqueiras” não chega o tempo, já esgotada a conversa, das anedotas? Pois que se fique pelas anedotas ou se apanhe um táxi. Eu cá prefiro sempre as anedotas. Se exceptuarmos a hiena, nenhum ser vivo ri a não ser o ser humano. E não há nada como o prazer de rir.
A cerveja é a terceira bebida mais bebida no Mundo. À frente da "loira" estão somente o café e o leite. No meu entender, porém, viria com certeza, desde que com os verdadeiros amigos por perto, como a mais apreciada.

Aristóteles, quando perguntado sobre o que é ser um amigo, dizia “é uma alma em dois corpos”. A primeira vez que bebi uma cerveja tinha 15 anos e foi com o meu Pai. Desde esse dia que devia ter aprendido que qualquer coisa “sabe” sempre melhor com boa companhia.

Talvez a nossa geração necessite de exercitar a aproximação e a compreensão. É preocupante o tempo que se perde com outras coisas para além da amizade e outros valores mais nobres e não é desculpa dizer que o stress do mundo contemporâneo é que não permite. E eu atiro a primeira pedra.

Cultura vs Cultura

Ler muito e com critério. Ir ao cinema, ao teatro e a espectáculos culturais. Participar activamente em qualquer tertúlia. Indicar, com clareza, quais as preferências musicais. Visitar museus. Curiosidade na receita dos pastéis de Belém. Saber quem foi o Campeão do Mundo de Futebol em 1966, saber o que foi o 25 Abril de 1974: tudo é cultura?

A definição de cultura não é uma realidade pacífica.

No recordista (em longevidade) mandato da República Francesa de François Miterrand, um dos ministros mais influentes, que elevou a França como país das Artes, da Música e do Teatro, foi o da cultura. De seu nome Jack Lang, um dia, questionado num programa de televisão sobre esta definição, limitou-se a responder que existe a tendência de nos referirmos à cultura pelo seu lado erudito e académico e aos estudos e conhecimentos de um indivíduo, à condição privilegiada do "Homem culto". Ainda assim, continuou, os tempos actuais exigem uma nova forma de entender a cultura: "Cultura é a forma como nos vestimos...Cultura é a forma como nos alimentamos... Cultura é sermos desportistas... Cultura é a forma como nos relacionamos com as outras pessoas... E depois cultura também é ler, assistir a um espectáculo e ser erudito."

Não reproduzo com rigor todas as palavras. Contudo era este o seu sentido para a palavra cultura. Uma nova definição para uma nova exigência dos tempos.

Quero acreditar que o evoluir cultural do mundo moderno caminha neste sentido. A vida activa de qualquer ser quotidiano deve conter todas estas, e mais, componentes.
É, certamente, impossível, ou muito difícil, mantermos-nos a par de todas estas actividades.
Mas importa-me aqui particularmente falar na restrição à nossa especialidade profissional.

Eu não sou, e sou, adepto dos tecnocratas, pois técnico, em sentido lato, “pertence exclusivamente a uma arte ou a uma ciência”. Devemos ser autênticos especialistas e de elevada cultura na nossa área, mas devemos também procurar ser pessoas esclarecidas e interessadas nas mais diversas?

Poucas profissões haverá no mundo tão exigentes como ser médico. O poder de decidir sobre o sofrimento e, muitas vezes, a vida e a morte das pessoas, é um poder que mais nenhuma classe tem. E a responsabilidade da perfeita convicção aquando da proposta de uma terapêutica médica também o é.
A formação é contínua e exigente. Semanalmente, quase diariamente, e passo a passo, sempre, com a mesma, necessária, seriedade e rigor. A quantidade de literatura médica é infindável e os congressos, mesmo apesar de interesses comerciais e marcações turísticas, são muitos.

Assim, pergunto-me se será possível, após a leitura sobre a descoberta, de investigadores da Faculdade de Medicina de São Paulo a partir da montagem de uma árvore genealógica, de uma nova doença mortal, designada provisoriamente por neuropatia hereditária motora e autonómica progressiva que se caracteriza por fraqueza dos membros superiores, inchaço da barriga, obstipação intestinal e aumento do nível de colesterol, ter disposição para iniciar um livro de José Saramago?
Não será certamente o mais apetecível. É um facto que há 30, 40 anos a cultura médica e outras formas de cultura eram mais compatíveis. A literatura médica era incomparavelmente menor.
Hoje, a hiper-especialização e a velocidade vertiginosa (e a competição!) dos progressos da Medicina impõem outros ritmos de leitura e dedicação.

A culpa é da profissão? É da vontade? Quanto a mim, o maior entrave são os horários de trabalho descabidos e, a consequente, falta de tempo para os mais diversos lazeres não relacionados com a prática profissional.

Acontece que a medicina é outra quando praticada por médicos cultos e em Portugal existe essa grande tradição, que é de ansiar que permaneça. Temos, entre muitos, o exemplo da comprovada genialidade de Adolfo Correia da Rocha, o nosso saudoso Miguel Torga, médico-poeta.

Penso que será tempo de o país compreender a necessidade de transversalidade de interesses e conhecimentos inerentes a uma personalidade humana, para que este evolua.

Mas afinal, – perguntavam-me há dias, a propósito de eu defender afincadamente este tema na mesa redonda – o que é que quer um doente quando no seu sofrimento procura um médico para o ajudar? A sua competência profissional ou um cidadão actualizado sobre literatura portuguesa, estrangeira ou outro tema qualquer não relacionado com a sua profissão?

- “Os doentes apenas querem que lidem com eles da mesma forma cuidada como lidariam com um amigo”, foi a minha resposta.

sábado, 18 de setembro de 2010

Fins de tarde em Valparaíso, são agradáveis certamente

Todos conhecemos a conhecida letra e música de Vinicius de Moraes, Tarde em Itapoã, em que o poetinha "com um velho calção de banho", num "dia p'ra vadiar", observa "um mar que não tem tamanho" e "um arco-íris no ar".

Terá alguém conseguido fazer melhor descrição de um dia de tal forma descansado ao ponto de "com olhar esquecido, no encontro de céu e mar, bem devagar ir sentindo a terra toda rodar..." ?

É dificil encontrar esse dia nas nossas vidas ocupadas, o que não quererá dizer que não o deveremos incessantemente buscar, como apanágio da nossa felicidade e encontro com aquilo que é também nossa obrigação: desfrutar. Porque desfrutar também é cultura. E, "enquanto o mar inaugura, um verde novinho em folha, argumentar com doçura, com uma cachaça de rolha..."

Não é coincidência que Valparaíso foi também imortalizada numa canção chilena. Valparaíso é uma cidade de forte actividade cultural, onde viveu, a título de exemplo, Pablo Neruda, que lhe dedica uma Ode.

Com intuito de , convivendo e relembrando grandes intelectuais e senhores do Mundo, declamando poemas ou literatura, contar histórias e escrevendo, na procura de que se faça luz nas nossas cabeças e se criem novos ideais, foi este princípio de noite em Valparaíso o cenário escolhido.

Chile, país de cultura certamente

O Chile (cujo nome oficial é República do Chile) é um país localizado no sudoeste da América do Sul, limitado a norte pelo Peru, a leste pela Bolívia e pela Argentina, a sul pelo Estreito de Drake e a oeste pelo Oceano Pacífico.
Alguns chilenos chamam ao país o País de Poetas, já tendo dois prémios Nobel da Literatura, entre muitos outros prémios para os seus escritores.
Assim esperamos que se confirme e continue.
O Chile está dividido em 15 regiões, 51 províncias e 346 comunas.Repleto de cafés, esplanadas e locais apropriados, será por todas estas regiões o nosso ponto de encontro.




















A tertúlia que comece, se espalhe e dê frutos.