domingo, 19 de dezembro de 2010

Manutenção da estética


No ano de 2003, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, publicou uma pesquisa onde questionava sobre o invento mais importante já desenvolvido. Num primeiro momento, muitos suspeitariam que a roda, os modernos aparelhos de comunicação ou qualquer outra parafernália moderna ganharia o primeiro lugar sem grandes dificuldades. Entretanto, para surpresa geral, a maioria apontou a escova de dentes como o mais importante invento da História.
Na área da saúde, profilaxia, do grego prophýlaxis (cautela), é aplicação de meios tendentes a evitar as doenças ou a sua propagação.
As medidas preventivas a instaurar em doentes que tenham sido submetidos a algum tipo de terapia ou reabilitação oral devem ser muito estritas, de forma a evitar recidivas e obter uma sobrevivência prolongada dos tratamentos.
É fundamental uma consulta periódica, a cada seis meses, para uma revisão do ponto de vista estético e de saúde gengival. Contudo, desafortunadamente, muitos doentes não realizam este controlo, apesar da motivação que lhes é transmitida.
Assim, importa reforçar a ideia da necessidade de realizar técnicas de manutenção diária correctas, pois é nelas que assentará a chave do êxito.
Deste modo, neste texto são explanadas, a título de conselho, as principais normas de actuação após um tratamento de reabilitação oral. São descritas as normas comuns de profilaxia, normas habituais de manutenção e, por fim, alguns conselhos de dieta e hábitos.
De facto, a preocupação com a boca e os dentes aparece como um dos mais antigos cuidados da higiene pessoal em diversas culturas.
Nos antigos papiros egípcios, descobertos por Ebers e Edwing Smith, que já se descreviam a importância dos cuidados de higiene e tratamentos para as dores de dentes, drenagem de abcessos e redução e imobilização das fracturas maxilares.

Os romanos consideravam a boca como o vestíbulo da alma. Mas apenas chegando ao século XVIII, um prisioneiro britânico chamado William Addis teve a brilhante ideia de desenvolver a primeira versão moderna da escova de dentes. Inicialmente, guardou um pedaço de osso animal da sua refeição diária e realizou pequenos furos numa das suas pontas e conseguiu algumas cerdas com um carcereiro. Amarrando as cerdas em pequenos feixes e fixando-as com cola nos buracos do osso, desenvolveu a tecnologia fundamental do invento.

A anatomia do cabo, a disposição dos feixes e o processo de desgaste foram sistematicamente analisados para que o instrumento fosse aprimorado e, actualmente, formas e tecnologias transformaram o mercado das escovas de dentes numa grande incógnita em que, de entre tantas opções, as pessoas não sabem distinguir qual o tipo de escova que atende a uma boa higiene oral.

A resposta é mais simples do que parece. Idealmente, a escova de dentes pode ter dureza média com cerdas sintéticas densas e rectas com terminação arredondada. Deve ser trocada de 3 em 3 meses ou quando as cerdas estão danificadas. No entanto, é preciso ter em conta que a escova de dentes perfeita não existe e a melhor é simplesmente “a que for melhor utilizada”.
A técnica mais recomendada consiste numa inclinação da escova a 45º no sentido da gengiva, com movimentos circulares sobre todas as superfícies do dente, com uma força de fricção suave, mas constante, com a ajuda de uma pasta de dentes adequada (fluoretada).

Para além da escovagem correcta, torna-se ainda importante a higiene das superfícies interproximais dos dentes, isto é, onde os dentes contactam entre si. Se estas superfícies não forem devidamente higienizadas acumulam-se bactérias e restos alimentares, que podem conduzir a processos de cárie e que obrigam a uma abordagem muito mais mutilante para o dente aquando do seu tratamento. Assim, torna-se importante o uso de fio dentário entre as superfícies dos dentes, com movimentos no sentido do sulco da gengiva.
No caso de espaços mais amplos entre os dentes, ou em restaurações com próteses fixas, é importante a utilização do escovilhão.

A placa bacteriana quando não é devidamente removida forma cálculo (ou tártaro). Este forma-se através da acção acídica da placa bacteriana junto com a saliva que tem um pH alcalino, formando um sal. A zona mais comum em que aparece é junto dos incisivos inferiores na mandíbula e nos molares superiores.
Isto deve-se precisamente à saída dos canais oriundos das glândulas salivares se encontrarem anatomicamente nessas localizações.

A presença deste cálculo, que é duro e áspero, só consegue ser removido por meios profissionais de destartarização e polimento.

A presença contínua de placa bacteriana e cálculo contribui para a irritação e inflamação da gengiva, podendo provocar sangramento ao leve toque da escova.

A gengiva só sangra quando está inflamada e não se trata de uma situação normal. Desta forma é de máxima importância advertir para uma consulta periódica, a cada seis meses, onde a higienização desempenha um papel fulcral.

Por fim, no que diz respeito a conselhos de dieta e hábitos, parece-me que esta se trata da situação mais difícil de incutir aos doentes pelo incómodo e esforço acrescido que acarreta.
O tabaco deve ser proscrito dado tratar-se de um factor de risco para as doenças gengivais/periodontais e a conhecida dualidade estética-tabaco. A ingestão de álcool também deve ser desencorajada.

Contra-indicar a utilização dos dentes para cortar as unhas, morder canetas ou partir a casca de frutos secos em portadores de próteses removíveis ou fixas parece evidente.
O café e o chá devem ser restringidos e substituídos por outro tipo de bebidas com menos capacidade de pigmentação. E, de igual forma, principalmente em casos de branqueamento, na dieta habitual deve ser diminuído o consumo de determinadas alimentos, como por exemplo as alcachofras e o açafrão.

Em todos os casos, o resultado final, a longo prazo, de um tratamento de reabilitação oral depende do interesse que o doente demonstra em mantê-lo e em nenhum momento julgo que deveremos passar a linha entre o que ele quer em relação à sua estética e o que nós desejaríamos.

Sem dúvida que o nosso sorriso é cada vez mais um dos nossos melhores cartões-de-visita. Num mundo altamente competitivo, a relação entre as pessoas está condicionada pela nossa imagem.

O lema “mente sã em corpo são” adquiriu a máxima sofisticação nos nossos dias.

O culto à estética chegou a todas as facetas do ser humano. Investem-se milhares de euros em obter uma imagem do homem perfeito, que é símbolo de saúde, inteligência e sucesso e, uma vez atingido esse patamar, torna-se fundamental mantê-lo.

   

In Ore Oritur Sanitas

Expressão em latim que significa “A saúde começa pela boca”