sábado, 2 de outubro de 2010

III - Rinfreschi di Laurea

17:10, dia 30 de Julho de 2008

É uma expressão italiana que significa simplesmente “tomar um refresco”.
Às 21horas partiremos novamente em direcção ao 4º país em dois dias, Eslovénia. E nada como estar em pleno Campo de Santa Margarita em Veneza, cumprindo a tradição italiana, um contraste necessário dado o calor e elevada humidade relativa da cidade.
Chegámos a Veneza no dia 29 de Julho perto das 21 horas.
Descer a escadaria da estação e avistar uma cidade única, da qual apenas tínhamos ouvido falar, conquistou finalmente o sentimento que já procurávamos há uns dias, nas infinitas horas de viagem: a viagem finalmente começara.

- “Que cidade”, estou certo que todos pensávamos, no mesmo momento em que descobríamos o amor à primeira vista.
Seguiu-se a procura do Hotel, que não se revelava fácil, dada a própria arquitectura da cidade. Porém, com bons planeadores e desenrascados na equipa, era certo que seria rápido.
Mas demorámos mais do que pensávamos.
Não pela procura, mas por fazer amizades à janela.
As nossas três primeiras verdadeiras amigas de Inter-rail foram conhecidas à janela. Talvez o nosso ar cansado, ou a T-shirt de Portugal, as tenha chamado à atenção, se bem que para manter a conversa, que mais tarde acabou bem mais tarde, foi certamente pela nossa simpatia.

Aqui em Itália, descobrimos o “Ciao”. O “Ciao”, simplesmente cumprimento em Itália, diferencia-os logo, nesse aspecto para melhor, do nosso país, cheio de virtudes e coisas boas, mas onde as pessoas sé se conhecem se forem apresentadas por alguém. A quantas pessoas levantamos o chapéu e dizemos “Olá” e, sem responder, se vão embora. Aqui diz-se “Ciao”, levanta-se o chapéu, e todos te sorriem, “Ciao” de volta, e só depois se vão embora.

A primeira noite foi engraçada. Para além das amigas da janela, que eram alemãs e argentinas, outros fizemos, especialmente um Franco-Veneziano, que no meio da cidade fantasma nos levou aquele que certamente é o local mais bonito de Veneza: seguir as placas amarelas com letras castanhas “Per Rialto”.

Deitámo-nos por volta das 4h e levantámo-nos por volta das 11, já uma hora atrasados para a entrega da chave.
Estivemos todo o dia a descobrir Veneza. Inexplicável, indescritível, Veneza.

Continuamos aqui no Campo de Santa Margarita, junto à zona Universitária da cidade, à espera do anoitecer, onde as luzes artificiais ainda são acendidas como antigamente.
Assistimos também a uma comemoração universitária de recém-licenciados, típica de Veneza, e comemos fruta fresca.
Aqui esperamos até à hora do comboio.
Veneza, cittá di amore, não é por ser um local ideal para namorar, é pela facilidade que se apaixona por ela.

II - Comboio para Brescia

18:15, dia 29 de Julho 2008

Finalmente um tempo para escrever.
Durante o dia, cada um à sua maneira, e com os seus próprios preparativos, derivados da sua própria personalidade, construiu a sua “casa às costas” e combinámos todos encontrar-nos às 21:30 na estação de comboio em Santa Apolónia.

Seria o último banho numa banheira que já sabemos controlar à nossa maneira a água quente e fria?
Seria o último momento de proximidade com uma máquina de lavar cujos botões sabemos carregar?
Seria a última refeição caseira terminada com banana, queijo e goiabada de sobremesa?
Os medos e a insegurança claro que nos assombravam antes de pôr os pés fora de casa com a promessa de voltar apenas 20 dias depois.

O comboio para Madrid partia então às 22 horas. A sua aparência dava indícios de que a viagem não seria fácil, mas rapidamente as amizades começaram: alemães, canadianos, vikings, chineses. Estávamos todos juntos na busca do Mundo novo que íamos a descoberta.
Imagino-me, porém, um jovem polaco ao mesmo tempo a esta hora, a decidir o itinerário da sua viagem e com dúvidas se viria até Portugal se chegasse até Madrid, visto que 10 horas para fazer 600 km não pode ser aceitável num país que queremos apregoar como desenvolvido.

Durante essas horas, alguns de nós dormimos, outros menos, mas o riso e a boa disposição foram a toada geral, influenciando, ou irritando, um comboio que se revelava monótono.
Chegados a Madrid, fomos procurar aquela, que mais tarde ou mais cedo, será a casa do nosso querido Cristiano Ronaldo, uma das referências a Portugal que mais estamos a espera de ouvir. Esta visita ao Santiago Barnabéu, estádio do colosso Real Madrid, vinha na perspectiva de fazer horas antes do nosso voo low cost até Milão que apenas partia as 14 horas.

Estamos agora perto de Brescia, onde trocaremos de comboio, para ir até Veneza. Em Bérgamo, Milão, fizemos algumas amigas, às quais pedimos informações que como é óbvio conhecíamos, mas que queríamos ouvir das belas bocas italianas, olhando-as nos também belos, e italianos, olhos azuis.
Bérgamo, voltamos qualquer dia. Para já, Veneza.
As expectativas estão altas, mas nestas viagens não há nada como não ter expectativas.

I - Viagens entre linhas

O Tnterrail é um passe, com o qual, se pode viajar de comboio pela Europa.
Mais do que um Interrail, estes textos relatam a viagem que quatro jovens, amigos e antigos colegas de liceu, fizeram de comboio, barco, autocarro e avião.

Findos os exames da Universidade, partiram uma certa noite de Lisboa e, durante 20 dias, com mais do que cinco alterações no roteiro inicial, estiveram em Espanha, França, Itália, Eslovénia, Hungria e Croácia. Visitaram ao todo 7 países, incluído o Vaticano.

Estas linhas relatam a sua viagem. As aventuras e desventuras. O seu roteiro.
As descrições simples que se seguem são um olhar externo de um Mundo ao alcance de todos e que vale a pena descobrir. Conhecer novas culturas e pessoas que, na era do e-mail, são fáceis de voltar a contactar. Tirar fotografias para mais tarde recordar. Olha r imagens em livros e dizer “eu estive aqui” e sentir-lhe o cheiro.

Viajar dá tranquilidade, mas também cedo chegam as saudades de Portugal. E lá fora percebemos que em muitas coisas o nosso país não é assim tão mau.
Viajar nunca é demais. Ir além fronteiras, abrindo a mente.

À ida, o mais difícil é partir. À vinda, o mais difícil é chegar.


Lisboa, 16 de Agosto de 2008.


Estes textos foram escritos numa viagem realizada em 2008 por 4 amigos e que ficaram escritos no diário de viagem de um deles.

Prometido nas secções deste blog que se falaria de viagens, este conjunto de 10 textos que serão divulgados aos poucos são, pois, relatados na melhor forma que se pode viver uma viagem: na primeira pessoa.