segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pequenos e brancos, como pérolas

 

Dostoievski deixou no ar a enigmática frase: "A beleza salvará o mundo". Será possível ou teria, de alguma forma, no curso da História, a beleza salvo alguém de alguma coisa? De uma frase simples, quantas interpretações se conseguirão fazer?

O belo e a beleza têm sido objecto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A estética, enquanto disciplina, surgiu na antiga Grécia, como uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e do belo artístico.

Profecia, ou não, a verdade é que, nos últimos anos, a importância da imagem na sociedade ocidental cresceu.
Olhos e boca são considerados como as características faciais mais importantes num rosto bonito. Um sorriso agradável pode produzir uma aura que amplia a beleza da face. E a percepção dessas qualidades melhora o carisma e amplia as hipóteses de sucesso no mundo actual. Com efeito, a população considera os dentes como fundamentais no processo de mastigação, mas a percepção está agora também virada para a estética e a pergunta “Como é que os meus dentes podem ficar mais bonitos?” chega todos os dias aos consultórios de Medicina Dentária.

A forma e a cor dos dentes anteriores são factores que contribuem para um sorriso estético e harmonioso e o Branqueamento Dentário tornou-se cada vez mais um tratamento popular e solicitado.
Embora existam algumas referências que os povos antigos, como os egípcios, já utilizavam pedra-pomes (ainda hoje utilizada para polimento de dentes e restaurações) e plantas medicinais como o Cardomomo (Elettaria cardamomun - vulgarmente conhecida como a “noz moscada”) para branquear os dentes, as técnicas actuais de branqueamento apenas foram introduzidas no decorrer do século XIX.

As técnicas actuais de branqueamento dentário são de dois tipos: de dentes vitais e de dentes não-vitais, sendo que este tipo de tratamentos podem ser divididos ainda “em consultório” ou “em ambulatório”.

Neste texto, apenas serão abordadas as técnicas de branqueamento de dentes vitais. E importa esclarecer, desde já, ao contrário da mensagem que tem sido interpretada, que não são as luzes que branqueiam os dentes, mas sim os produtos químicos utilizados.

O branqueamento de dentes vitais em consultório foi relatado pela primeira vez em 1868 e, embora existam relatos de bochechos com éter a 3 % e peróxido de hidrogénio (água oxigenada), o branqueamento dentário em ambulatório com moldeira apenas começou a ser aplicado em meados de 1968.

Actualmente, a maior parte dos produtos utilizados são derivados de peróxido de hidrogénio, sendo o mais comum peróxido de carbamida. Existe em diferentes concentrações, que podem variar num intervalo muito amplo, até cerca de 10 vezes.

Relativamente ao tratamento em consultório, numa mera opinião clínica, ainda carece de estudos que suportem a sua eficácia e segurança. Como referido anteriormente, não são as luzes que exercem um efeito branqueador, mas sim os produtos químicos utilizados. Estas apenas aceleram a reacção química na tentativa de que se atinja a cor de branqueamento desejada de uma forma mais rápida. Porém, o calor gerado por estas luzes pode ser lesivo para a polpa de dentes vitais e, além disso, como as concentrações utilizadas são mais elevadas a vantagem potencial de utilização de luz pode não ser sequer clinicamente perceptível, quando comparada à cor obtida com os mesmos produtos sem a aplicação de luz.

No que diz respeito ao branqueamento em regime ambulatório, este é realizado através de uma aplicação directa do material em casa pelo próprio, por períodos variáveis (desde 1 a 6 horas diárias) durante vários dias ou semanas, através de uma goteira confeccionada por um profissional e que se adapta rigorosamente aos dentes, como se descreve em seguida.

De um modo geral, este tratamento “doméstico” com produtos de baixa concentração, sob prescrição, com cumprimento das instruções e controlo por parte do seu médico dentista, constitui uma técnica eficaz e segura, sendo que apresenta ainda outras vantagens: a cor final do tratamento é mais controlada, pois, por opção, não é necessário utilizar todas as seringas do produto para atingir a cor ideal e, numa decisão futura de querer voltar a branquear os dentes, se não tiver, nesse período, realizado nenhuma alteração dentária, a moldeira confeccionada pode voltar a ser utilizada, sendo apenas necessário voltar a investir no produto.

A evidência científica mostra ainda que os efeitos secundários estão relacionados com a concentração dos produtos e a forma como são aplicados, sendo os mais frequentes a sensibilidade dentária e o desconforto gengival.
Estes frequentemente desaparecem com a interrupção do tratamento, mas sobretudo a aplicação incorrecta pode originar lesões mais graves e permanentes. Desse modo, são altamente desaconselhados os materiais de venda livre publicitados como branqueadores, que se vendem em farmácias, super-mercados ou programas de televisão.

A duração do branqueamento dentário está actualmente estabelecida para um período de 1 a 3 anos. No entanto, este valor pode prolongar-se ou reduzir-se em função do comportamento individual de cada um, nomeadamente no que se refere à sua higiene oral, a hábitos etanolico-tabágicos e frequências de toma de café e chá. São ainda importantes as consultas regulares ao seu médico dentista.
Convém ainda lembrar que o branqueamento dentário pode não estar sempre indicado. Em princípio, qualquer pessoa com uma saúde oral boa e estável pode efectuar um branqueamento dentário. No entanto, existem situações de doença que necessitam de tratamentos prévios, nomeadamente cáries, hipersensibilidade ou doenças gengivais/periodontais.
Em tratamentos que envolvem próteses dentárias removíveis ou fixas de maior complexidade e tratamentos estéticos, como restaurações em dentes anteriores, o momento de branquear os dentes deve ser necessariamente bem enquadrado no tratamento, de forma a harmonizar a cor, na medida em que, se for realizado após, os produtos de branqueamento não actuam na cor dos materiais que compõem as próteses e as restaurações.
Para além do branqueamento existem outras opções de tratamento para dentes com descolorações. Estas são variadas e incluem, por exemplo, facetas ou coroas em cerâmica. Estas podem ser mais duráveis na manutenção da cor, mas a questão que se coloca é a de até que ponto o desgaste dentário de dentes saudáveis deve ser realizado perante outras soluções que dispensam essa intervenção.

A estética dentária tem caminhado no sentido de se criarem sorrisos demasiados estereotipados. Os dentes naturais têm uma variedade infinita de formas, cores, texturas e arranjos diversos em cada indivíduo, criando cada sorriso diferente.
Na verdade, a estética só pode ser avaliada de uma forma integrada, em que face, lábios, dentes e gengiva são vistos em conjunto e em harmonia.
Assim, em medicina dentária estética tem de se ter em consideração a idade, o sexo, a aparência e a forma da face, a cor da pele, o movimento dos lábios e a anatomia e tamanho dos dentes.

Como diz Mondelli, a meta das pessoas é sempre dentes pequenos e brancos, como pérolas. Deve, no entanto, ouvir sempre primeiro, durante e no fim, a opinião do seu médico dentista perante qualquer procedimento irreversível, visto que também os dentes demasiado brancos podem não constituir um conceito estético agradável.

O conceito de beleza que se deve exigir nos tratamentos de hoje é a manutenção da naturalidade, da personalidade e da harmonia dentro das características de cada um.
E, só assim, pode este desafio complexo de pôr as pessoas a sorrir, como sugeriu Dostoievski, ajudar o mundo.


Publicado na revista Moda&Moda - Dezembro 2010