sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A proporção áurea no sorriso

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O mais antigo cânon das proporções humanas foi encontrado numa câmara mortuária nas pirâmides de Mênfis, a capital dos grandes faraós, datado de 3000 anos a.C.
Desde então, e até hoje, artistas e cientistas têm-se dedicado em desvendar os mistérios das relações proporcionais do corpo humano. São conhecidos os cânones do império faraónico, da era ptolemaica, dos gregos e romanos, o cânon de Policleto, que determinava que o total do corpo era sete vezes o tamanho da cabeça, e a mundialmente conhecida obra de Albrecht Dürer.

                                
Entre todas as formas de estabelecer proporções, uma das mais conhecidas é a proporção áurea, divina ou “mágica”, que representa a fórmula matemática que define a harmonia nas proporções de qualquer figura, escultura ou monumento.

Já reconhecida e registada no Antigo Egipto e popular na arte romana e arquitectura grega foi denominada “proporção áurea” por Luca Pacioli, em 1509, e amplamente aplicada por diversos artistas na época do Renascimento como Leonardo da Vinci e Michelangelo.

A proporção áurea simboliza, no fundo, a “propriedade divina” da relação de Fibonacci ou a “proporção divina” de Pitágoras, através da seguinte fórmula, em que o S representa o número anterior e L o número ulterior na sequência:

Esta proporção é de 1,0 para 1,618 que, em números inteiros pode ser expressa como 3 para 5, 5 para 8, 13 para 21 e assim progressivamente exactamente como a sequência de Fibonacci:
 


Em Medicina Dentária Estética são requeridos vários elementos para a unidade e estética ideais, sendo um deles a proporção dentária. Segundo alguns autores, a perspectiva de harmonia do sorriso pode ser percebida pela relação proporcional áurea existente entre a largura do sorriso, o segmento dentário anterior e o corredor bucal. Multiplicando-se metade da largura do sorriso por 0,618 obtém-se o valor do segmento dentário anterior de incisivo central a canino e, este valor, multiplicado por 0,618, por sua vez, estabelece a largura do corredor bucal.


A aplicação da proporção áurea na estética dentária foi descrita inicialmente por Lombardi, em 1973, e, depois, por Levin, em 1978, que usou a proporção áurea para relatar as sucessivas larguras dos dentes anteriores com o objectivo de auxiliar a selecção e montagem de dentes. Assim, para os princípios da proporção áurea serem aplicados, foram criadas, por Levin, grelhas para a avaliação da medida da amplitude do sorriso e da porção visível dos dentes.
A análise da proporção áurea pode ser aplicada de uma forma unilateral ou bilateral. Este é um caso, relatado por Mondelli no seu livro, no qual foi aplicada a proporção áurea:
 
É notório que as relações proporcionais/áureas sempre estiveram presentes durante toda a história do ser humano. No que diz respeito ao sorriso, a maior parte dos estudos que encontramos demonstram que a maioria das vezes a proporção áurea não é encontrada na composição dentária da população em geral.
Como tal, não deve ser aplicada sistematicamente em todos os casos, devendo servir principalmente como guia de diagnóstico e ser aplicado a cada caso em particular, tendo em conta a experiência, a sensibilidade clínica do Médico Dentista e os factores individuais da pessoa que estamos a tratar.

A natureza fundamental da beleza humana é algo demasiado complexo para se medir ou avaliar apenas de régua, esquadro e compasso.

A proporção áurea é, pois, um mito, visto que até os desalinhamentos, as rotações ligeiras e as demais discrepâncias subtis podem providenciar o conceito de beleza mais difícil de reproduzir: a naturalidade, a personalidade e a harmonia dentro da assimetria de cada um.

Na minha opinião, Leonardo da Vinci foi desdentado total

Imaginemos ver na rua uma pessoa desdentada: o que nos perturba não é a forma dos lábios, ou os poucos dentes que restaram, mas o facto de os dentes que ficaram não serem acompanhados pelos outros que lá deveriam estar. Não conhecemos aquela pessoa, aquela fealdade que nos envolve emocionalmente. Contudo, perante a incoerência ou incompletude daquele conjunto, sentimo-nos autorizados a dizer apaixonadamente que aquele rosto é feio. (Umberto Eco in História do Feio)

As consequências de alguém que perdeu os dentes são, para além da decorrente reabsorção óssea e das alterações da coordenação muscular e naturais influências do padrão mastigatório e da fonação, as consideráveis modificações na estética facial do indivíduo. E, com tudo isto, os factores psicológicos negativos que são criados.

De seguida, apresenta-se uma imagem de um desdentado total e a descrição das principais estruturas afectadas na sua estética facial:



Existe um desaparecimento do filtro labial.


Existe uma inversão das comissuras labiais.


Existe um acentuamento dos sulcos naso-genianos.


Um acentuar das rugas labiais, ficando também os lábios mais finos.


Verificando-se, ainda, uma diminuição da altura do terço inferior da face e um prognatismo relativo (avanço da mandíbula em relação ao maxilar superior).


Leonardo da Vinci é considerado por muitos como o maior génio da história.
Foi pintor, arquitecto, engenheiro, cientista e escultor do Renascimento e são impressionantes os seus estudos em ciências e as criações de engenharia que realizou, que se encontram registadas em cadernos que incluem perto de 13.000 páginas de notas e desenhos que fundem arte e ciência.

Os seus trabalhos artístiscos são altamente reconhecidos, onde se incluem obras como A última ceia ou, para citar talvez o mais conhecido, A Mona Lisa.
Entre diversas teorias, existem algumas que apontam essa obra como um auto-retrato de Leonardo, mas com feições femininas, explicando assim o sorriso ambíguo.

As lendas em volta de Leonardo da Vinci são múltiplas e elas inspiram até hoje imaginações em todo o seu limite e foi por isso que, deparando-me com o seu último auto-retrato, datado de aproximadamente 1515 (Leonardo teria 63 anos), decidi sugerir que, nesta fase da sua vida, é provável que se pudesse encontrar edêntulo.

Ora, agora que conhecemos as características faciais de um desdentado total, analisemos o retrato:


Numa análise científica, meramente baseada na evidência, note-se a marcação dos sulcos naso-genianos, a ausência do filtro labial, as comissuras labiais invertidas, os lábios finos, o terço inferior da face diminuído e um prognastimos relativo, embora a barba ajude a disfarçar.


Grande inventor da sua época, Leonardo da Vinci era um homem à frente do seu tempo. E, como tal, já tinha deixado preparada a resposta para esta observação, chegasse ela quando chegasse:

" Era uma vez um rapaz que tinha o vício de falar mais do que devia.

- Que língua! – Suspiravam, um dia, os dentes. – Nunca está quieta! Nunca se cala!

- Que estão vocês a murmurar? – Replicou a língua com arrogância. –Vós, os dentes, não sois mais do que servos unicamente encarregados de mastigar os alimentos que eu escolho. Entre nós não há nada em comum e não vos permito que se metam nos meus assuntos.

Deste modo, o rapaz continuava a dizer coisas que não vinham a propósito, enquanto a língua, feliz, conhecia todos os dias novas palavras.

Um dia, o rapaz depois de ter feito uma tolice autorizou que a língua dissesse uma grande mentira. Mas os dentes, obedecendo ao coração, morderam-na.

A língua ficou corada de sangue e o rapaz, arrependido, corou de vergonha.

Desde aquele dia a língua tornou-se cautelosa e prudente e antes de falar pensava duas vezes.

Contos de Leonardo da Vinci - A língua mordida pelos dentes