sábado, 29 de janeiro de 2011

In ore oritur sanitas


In ore oritur sanitas (expressão em latim que significa "A saúde começa pela boca")

Por causas...

É engraçada a palavra “causa”. Primeiro, quando procuramos o seu sentido mais imediato no Dicionário encontramos: “agente eficaz que dá existência ao que não existia; motivo, razão. Facto: falar com conhecimento de causa (…)” Se a introduzirmos no site do google.pt só aparece “…Necropsia e mortalidade por causa…”, “…Duas causas principais que explicam…” “…grupos de causas…” e lá na terceira ou quarta página encontramos “Causas nobres”.

 

Infelizmente, e apesar dos esforços para se conseguir a Paz no mundo, o recurso a armas é ainda um meio de resolver diferenças entre as nações, entre os povos e entre grupos étnicos com o cortejo inerente de mortes e sofrimentos.

Os governos dos países mais desenvolvidos já começaram a tirar lições dessas experiências e já procuram dar contributos para a segurança, para o estabelecimento de forças políticas e para os cuidados de saúde.

Hoje em dia, e ao cidadão comum, já é mais fácil também participar em causas. Li no outro dia que enquanto se envia e-mails ou enquanto, simplesmente, se navega pela Internet, que se pode ajudar a combater a malária, que é um dos maiores desafios humanitários em África: o paludismo, actualmente, mata mais de um milhão de pessoas por ano e é a maior causa da mortalidade infantil.
Tudo, quando se quer e se quer fazer bem, são ou podem ser causas.


Contudo, e louváveis sejam todas as formas de participação, quem merece mesmo a congratulação e o respeito por este combate são as entidades e organizações não-governamentais criadas há anos com princípios directores de causas humanitárias. Sob o lema permanente que mais do que sonhar é preciso acreditar e concretizar, passam toda a vida a lutar por causas nobres e desafios humanitários. Os Médicos Sem Fronteiras, organização fundada na década de 1970 e prémio Nobel da Paz de 1999, por exemplo, tem lutado, pondo em risco a vida de milhares de profissionais de saúde (quantos a perdem), por meses e anos a fio, sem reclamar qualquer compensação, para levar assistência às pessoas que vivem nas áreas de conflito. Temos igualmente o nosso exemplo da AMI.

E estas entidades estão em todo o Mundo: Angola, Nigéria, Quénia, República Democrática do Congo, Somália, Sudão, Ruanda, África do Sul, Benin, Burkina Fasso, Malawi, Mali, Moçambique, El Salvador, Guatemala, Haiti, Venezuela, Panamá, Peru, Filipinas, Geórgia, Índia, Arménia, Bangladesh, Macedónia, Montenegro, Roménia, Rússia, Ucrânia, Kosovo, Nepal, Paquistão, Tailândia, Turquemenistão, Uzbequistão, e tantos outros.

Sem governos centrais actuantes há décadas, as crises de fome e desnutrição, a falta de serviços básicos de saúde, como a vacinação, ou a falta de serviços de água e saneamento são os “hábitos” de alguns destes países.

Milhões de deslocados, milhões de refugiados, milhões de sequestrados.

Opressões, conflitos, negligências. A violência é, por exemplo, a principal causa de morte na Colômbia.

Todo um Mundo desconhecido e só com estes relatos é que nos apercebemos do quanto somos privilegiados.

 

Não existe, de facto, nada mais nobre que contribuir para a melhoria das condições de vida das populações vítimas, com testemunho. Ainda bem que existe quem se preocupe com a liberdade como causa, na democracia como causa e no evoluir do Mundo como maior causa. Parabéns a quem as abraça! Nunca é uma vida em vão.



Achei que uma semana depois das eleições presidenciais, seria uma boa altura para elogiar Fernando Nobre e pedir-lhe que não se desvie do seu caminho e continue, por todos, a fazer aquilo que melhor sabe.

Conversas entre... Fernando Pessoa e Agostinho da Silva

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Fernando Pessoa

Trabalhar com esperança

“ (…) É evidente que muito tempo vai passar, é possível que passem séculos sem que nós consigamos dar o salto, fazer uma transição de uma economia de trabalho para uma economia ou para uma vida que seja a do lazer. No fim de contas talvez possamos dividir a vida da Humanidade em três grandes períodos: um primeiro em que o Homem não entendia sequer o que era o trabalho” (…), “uma segunda época, a do trabalho, em que aparecem até metafísicas conducentes e disciplinadoras de tudo isso e o trabalho veio por aí fora e está sendo, já no nosso tempo, uma angustia para muita gente. Aliás, duas espécies de angústia: a daqueles que não trabalham e que se perguntam como é que vão comer, porque até agora só se pode viver apresentando provas de que se trabalhou; e por outro lado a angústia daqueles que trabalham, mas que estão com medo que o trabalho tome conta deles.” (…) “Tenho esperança de que isso acabe e de que se abra então uma terceira idade, em que os homens possam não ter a preocupação do futuro como, provavelmente, não tinham os da primeira época. Ter a ideia de ser o presente o mais belo, a mais bela dádiva que eles poderiam ter, cantá-lo, estudá-lo, meditá-lo, contemplá-lo, de todo o jeito, ao presente que passa e que passa rápido na nossa curtíssima vida e olhar para o futuro que dê plenamente essa capacidade de contemplação e de criação do homem, aproveitando tudo aquilo que foi feito com o sacrifício dos trabalhadores durante séculos e séculos. Provavelmente ainda levará muito tempo para isso, mas tenho esperança, tenho esperança (…)” 


Agostinho da Silva