sábado, 18 de junho de 2011

E via-se lhe um dente podre...

"(...) na larga sala a noite passava-se espiritualmente. Macário não pôde dar todos os pormenores históricos e característicos daquela assembléia. Lembrava-se apenas que um corregedor de Leiria recitava o Madrigal a Lídia: lia-o de pé, com uma luneta redonda aplicada sobre o papel, a perna direita lançada para diante, a mão na abertura do colete branco de gola alta. E em redor, formando círculo, as damas, com vestidos de ramagens, cobertas de plumas, as mangas estreitas terminadas num fofo de rendas, mitenes de retrós preto cheias da cintilação dos anéis, tinham sorrisos ternos, cochichos, doces murmurações, risinhos, e um brando palpitar de leques recamados de lantejoulas. "


" - Muito bonito, diziam, muito bonito! E o corregedor, desviando a luneta, cumprimentava sorrindo - e via-se-lhe um dente podre."


Eça de Queirós. Singularidades de uma rapariga loura

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