sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Gravatas contra a crise



Lembrada no colarinho dos ricos e dos dandies “do bom gosto”, particularmente em forma de lenço ou como laço, a gravata atravessou séculos e continentes.

A sua origem é sobejamente conhecida. O termo gravata deriva do francês "cravate". Esta expressão, por seu turno, é uma corruptela de "croat", em referência aos croatas, que, segundo reza a história, foram os primeiros a apresentar a indumentária à sociedade parisiense.

Na verdade, há registos do uso de lenços no pescoço por soldados chineses, no século III A.C. e também entre o Exército da Roma Antiga, como sudário. No entanto, a história mais conhecida sobre a origem da gravata data de 1618, quando um regimento croata passou por Paris durante a Guerra dos Trinta Anos.

Ornamentados de um lenço ao pescoço, os croatas influenciaram a moda Francesa, instalando-se a gravata no pescoço e na corte do Rei Louis XIV.

A gravata sempre se evidenciou como uma peça de distinção social. Símbolo de elegância na sala de aula ou num jantar social, de distinção numa conferência ou no consultório médico, de poder em reunião ou ao almoço, de profissionalismo e segurança no parlamento ou na televisão. Mas, na verdade, o que aconteceu ao país, de Alexandre O’Neill, “engravatado todo o ano e a assoar-se à gravata por engano”?

É cada vez mais evidente o abandono desta indumentária. Na Alemanha, entre 1995 e 2005, as vendas de gravatas caíram de 20 milhões para 10 milhões de unidades anualmente e, nos Estados Unidos, mesmo antes da eclosão da invariável crise, segundo um estudo do Instituto Gallup publicado no Wall Street Journal, o uso da gravata já andava em queda entre os homens de negócios americanos.

O primeiro sinal de perda de prestígio da gravata entre os altos executivos ocorreu em meados dos anos 80, com a instituição do “casual Friday”, uma medida das empresas norte-americanas em que, às sextas-feiras, os colaboradores poderiam substituir o fato e gravata por calças de ganga e polo.

Actualmente, o conceito de que ter poder é usar gravata diferenciou-se. Ter poder é, nos dias de hoje, vestir-se como bem entender. Uns dirão que os consumidores simplesmente perderam o gosto pela peça. No entanto, a verdade passa por, assim que as pessoas têm opção, deixam de usar gravata.

Em nome do conforto, o mercado interpretará que a gravata só irá sobreviver se puder ser um acessório opcional a ser usado pelos verdadeiros apreciadores. Rapidamente, teses serão publicadas comprovando que que quem utiliza gravata todos os dias tem maior probabilidade de contrair esta ou aquela doença. Ou, tal como foi premissa para o despacho do ministério da Agricultura de dispensar todos os colaboradores de usar gravata, não utilizar gravata permite baixar 2º C na temperatura do ar condicionado, permitindo, assim, poupar energia.

Ao mesmo tempo, por coincidência, dados no Brasil, revelam que nunca esta peça de vestuário, principalmente masculina, foi tão vendida. Estima-se que foram vendidas, no ano de 2009, perto de 18 milhões de gravatas, sendo cerca de 11 milhões produzidas no próprio país.

Não nego que, após esta ascensão no Brasil, a gravata talvez seja condenada igualmente ao mesmo caminho que vitimou os suspensórios. Mas, uma mera análise da geografia global permite-nos, pelo menos, levantar a dúvida de que a utilização / não utilização da gravata coincide com o ritmo de crescimento económico / recessão económica nos últimos anos.



Usar, ou não, gravata não é sinónimo de nada. Contudo, mesmo que exista a opinião contrária, alguns traços de formalidade incentivam a confiança, o respeito do trabalhador por si próprio e da sua família, factores essenciais para a produção, que, por sua vez, incutem vontade de trabalhar e a sensação de uma representação com rigor do seu produto ou valor. 


Em Londres, talvez a maior praça financeira do Mundo, as mulheres continuam a suportar estoicamente os saltos altos e os homens vestem-se a rigor e não me recordo de ver algum de nó largo na fausta gravata cor-de-rosa.
Nos tempos que correm, importa lembrar que foi particularmente na década de 1930, na época de recessão económica, que o estilo da gravata moderna nasceu. As gravatas ficaram largas, os ombros cresceram, e as lapelas também. Interpretou-se como um contraponto de uma fragilidade em que o homem precisava de se tornar forte novamente.

Tal como no tempo da Grande Depressão, hoje é preciso entender esta mensagem de novo. Se as formas actuais “enforcam” pelo colarinho, então que novas “gravatas” se inventem.

Se possível, com um Ipod. De preferência, com um pouco de lucidez, respeito e honra incorporados.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite,

aproveito para retribuir aqui com carinho;
Feliz dia internacional dos irmaos.

Em relaçao ao texto, dado curioso em relaçao a historia e interessantissima a progressao de vendas de gravatas num pais que nos ultimos anos tanto tem conquistado e lutado contra a crise (bendito Lula).

Curiosamente acho que foi o ano que comprei mais gravatas, em segredo espero que seja proporcionalmente directo ao sucesso :D

um grande abraço
JPG

Sofia disse...

É sempre com especial gosto que leio os teus posts!
Adoro sempre cada uma das curiosidades que vais relatando.
Em suma, concordo contigo quando dizes que: "Usar, ou não, gravata não é sinónimo de nada."
Sendo certo que, não é menos verdade que "actualmente, o conceito de que ter poder é usar gravata diferenciou-se. Ter poder é, nos dias de hoje, vestir-se como bem entender." E esta parte foi mesmo a que mais gostei porque reflecte mesmo a realidade dos factos! Hoje em dia, ter poder é vestir-se como se quer, dentro de parâmetros de classe e elegância, mas como se quer!

Beijinho e continua a escrever!